terça-feira, 17 de junho de 2014

Eiffel, o engenheiro do ferro no Palácio da Bolsa



O famoso engenheiro francês, que entre 1875 e 1877 viveu em Barcelos, teve um gabinete no Palácio da Bolsa, no Porto, de onde acompanhou a obra da Ponte Maria Pia. A sala está agora aberta ao público.

Daquela janela vê-se o tabuleiro superior da Ponte Luís I. Estamos no palácio da Bolsa, sede da Associação Comercial do Porto, numa pequena sala que esta segunda-feira foi reaberta ao público e que terá sido, durante dois anos, gabinete de trabalho de Gustave Eiffel. Se fosse hoje, o homem que ali trabalhou talvez não gostasse tanto da vista que deslumbra os turistas. A ponte Luis I foi feita pela firma de um ex-colaborador com quem, em 1879, disputou, e perdeu, o concurso para a sua concepção e construção.
Gustave Eiffel viveu em Barcelinhos, entre 1875 e 1877 e deixou várias obras no país, de Viana a Olhão, passando por Barcelos, Esposende, Alijó e, entre outros concelhos, o Porto, onde a sua firma concebeu e construiu a Ponte Maria Pia, que em 1876 permitiu a ligação ferroviária entre Lisboa e o Porto. A travessia que ficou nas bocas do mundo por ostentar o maior arco em ferro até então construído, foi projectada por um dos melhores engenheiros da sua firma, Théophile Seyrig. Que pouco tempo depois estava a trabalhar por conta própria e a disputar mercado ao próprio Eiffel.
Foi o que aconteceu com a Ponte Luís I. Enquanto trabalhava naquele gabinete voltado para a Ribeira, Eiffel tinha proposto um desenho para uma ponte sobre o Douro na localização da ponte pensil. O desenho está na posse da ACP, que a expôs nesta sala, mostrando um tabuleiro inferior levadiço, para passagem dos grandes veleiros que então aportavam na cidade e um belíssimo arco que funcionava também como ligação entre margens à cota alta. O projecto não foi aceite e, em 1879, aberto um concurso, Eiffel concorreu com outras firmas e perdeu para a empresa de Seyrig.
A derrota não beliscou a fama do autor da Torre Eiffel. O Palácio da Bolsa estava ainda em construção quando ele se instalou ali e, em 1880, a sua empresa chegou a fazer um orçamento para a imensa clarabóia do Pátio das Nações do edifício. A carta, propondo um preço de catorze contos e 200 mil reis, está também exposta no seu gabinete, juntamente com uma outra, escrita dois meses mais tarde, em que um seu colaborador insistia, a partir de França, perguntando qual fora a decisão da Associação Comercial do Porto sobre esta empreitada. Esta não lhe foi favorável e a obra – que há pouco tempo foi alvo de um minucioso trabalho de restauro – acabou por ser realizada por Tomás Soller.
O gabinete de Eiffel é um dos novos motivos de interesse do Palácio da Bolsa, um dos monumentos mais visitados do Porto e que em 2014, seguindo uma tendência que vem de anos anteriores, já viu, até Maio, o número de turistas aumentar 7%. Os franceses são quem mais visita o imponente edifício da Zona Histórica e já esta segunda-feira era visível que o gabinete de um dos mais famosos engenheiros do mundo vai ser motivo de conversa entre os seus conterrâneos. Bastou que vissem a placa à entrada do pequeno compartimento onde se encontra apenas um aparador com uma máquina de escrever e um selo branco, uma escrivaninha e alguns quadros nas paredes.
Fonte:
http://www.publico.pt/local/noticia/eiffel-o-engenheiro-do-ferro-no-palacio-da-bolsa-1650578#/0

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