sábado, 26 de outubro de 2013

As minhas sereias - Exposição Arte e Literatura "A Menina do Mar"

Sereias na Caldeira Velha - em casa de Maria Manuela Marques 

Sereia de Odeceixe.


Sereia do Carvalhal.

Sereia de Santo André.

Sereia de Sines - reservada para Isabel Cruz.

A Menina do Mar.

Sereia de Porto Covo - reservada para Isabel Cruz.

Paixão pelo mar - reservado para Carla G.

Sereia de Milfontes

Sereias do Farol do Cabo Sardão.
Técnica mista.

Sereias do Cabo Sardão

Sereias da praia da Carraca

Sereias da praia de Fernão Veloso, da praia do Sousa e da praia de Relamzapo

Sereia de Nacala


A sereia da Zambujeira - em casa de Irene.

A sereia-princesa Peralta - 48X30 - em casa de Cristina Amaral.

Sereia de Vilamoura - em casa de Margarida Soares Franco e Sereia de Armação de Pêra - Em casa de Maria Manuela Marques.


Sereia do Ilhéu - em casa de Jorge Silva.

Mar dos Açores


Exposição Arte e Literatura na Escola - "A Menina do Mar".
Tinha prometido levar os Artistas do Clube das Artes a visitar exposições e eles gostaram.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Professor de História defende o silêncio de volta às escolas. É autoritário e não se importa que os alunos não gostem dele. Basta gostarem das aulas

 

Mithá Ribeiro. "Estou fisicamente preparado para actuar se um aluno desobedecer"
 
 
Licenciado em História e especializado em estudos africanos, Gabriel Mithá Ribeiro gosta ainda de entrar em outras áreas como sociologia ou psicanálise para entender melhor o pensamento social. Daí não ser estranho ouvi-lo sobre temas tão distintos como educação. Até porque já deu aulas durante duas décadas em escolas "ditas difíceis" e, segundo ele, só quem conhece bem a sala de aula tem condições para estudar e investigar a realidade escolar e ainda propor políticas no ensino. Mithá Ribeiro é um dos convidados da Fundação Francisco Manuel dos Santos que a partir de hoje e durante o resto da semana vai animar o debate online "Onde acaba a indisciplina e começa a violência", que acontece em simultâneo com as conferências em Lisboa e Braga "A Indisciplina na Escola" nos dias 17 e 18.
"Onde acaba a indisciplina e começa a violência" é o mote do debate em que vai participar. Existe uma fronteira?
É muito difícil separar a indisciplina da violência. O problema sério nas escolas é a indisciplina. E o problema seríssimo é a pequena indisciplina.
Porque é a recorrente?
E porque é a que tem de se combater no início. Dei aulas no 3.o ciclo e secundário durante 20 anos em 11 escolas ditas difíceis da margem Sul e sei que a violência não é um problema maior. Não digo que não existe, digo que é empolada. O alvo da questão é a indisciplina. Ou se resolve ou vamos continuar a enfrentar um dos obstáculos mais estruturais do ensino.
Há dificuldades em assumir que este é um problema grave nas escolas?
Para percebermos os problemas que condicionam o sistema de ensino, temos de partir da sensibilidade da sala de aula, que é onde tudo acontece. Mas toda a sensibilidade que condiciona as políticas e as teorias de educação é gerada de cima para baixo. Quanto mais distantes estão as pessoas das salas de aulas, mais poder têm para condicionar o ensino. Há até directores que estão décadas sem dar aulas e são uma correia de transmissão do que vem de fora para dentro em vez de levar a sensibilidade da sala de aula para fora. Se a sala de aula fosse o factor condicionante do pensamento e da definição de políticas de ensino, há muito que a indisciplina se tinha revelado um problema central. Além da falácia dos directores, há a falácia dos professores universitários. É completamente diferente ser professor do superior e do básico e secundário. As teorias aplicadas no básico e secundário vêm do ensino superior sem nunca terem sido testadas no próprio ensino superior. Se fossem, saberiam as asneiras que fazem.
Que asneiras?
A forma como se mexe nos currículos ou se faz as reformas. Tem de haver uma relação directa entre a prática quotidiana de dar aulas e a teorização. A estrutura universitária trata dos problemas do ensino sem saber o que é o ensino. É uma espécie de bloqueio que, se calhar, nem em cem anos vamos resolver. Mas é preciso alguém dizer que o único que pode teorizar e propor políticas a sério é quem conhece a sala de aula. Mas é tão errado alguém que só está na sala de aula e não tem teoria para explicar a vida da sala de aula como o oposto.
Porque só se reage perante a violência?
Porque o ruído tornou-se tão normal que só reagimos quando se ultrapassa o nível do ruído. O silêncio é o aspecto que mais casa com a construção do conhecimento, mas foi banido das escolas. O ruído foi naturalizado nas aulas e incentivado pelos pedagogos que defendem a participação, a permanente actividade dos alunos.
Silêncio quer dizer reflexão?
Quer dizer adesão voluntária das pessoas à introspecção, à tranquilidade. Muitos professores queixam-se da indisciplina porque optaram por modelos pedagógicos participativos, que dão muito poder ao aluno. O modelo participativo tem virtudes mas também tem problemas e um deles é incentivar a indisciplina. Se percebermos que a disciplina é central vamos perceber também que o modelo autoritário directivo consegue mais eficazmente impor o silêncio. Mas passou-se de um modelo autoritário da ditadura para uma ditadura da democracia que impôs o modelo participativo. Quem hoje defender o modelo autoritário parece que está a cometer um pecado capital.
Criar empatia ou proximidade com os alunos promove a indisciplina?
Os dois modelos devem coexistir, mas todo o aparelho ideológico torna uma abordagem legítima e a outra ilegítima. E quem constrói este aparelho é quem não dá aulas. Se dessem, percebiam o erro que é não incentivar o modelo autoritário. Sou um professor autoritário, mas para isso beneficio de duas vantagens que são vergonhosas de dizer num estado civilizado. Uma: sou homem e posso ser fisicamente afirmativo. Se um aluno desobedecer à minha ordem estou preparado para actuar. Não dou aulas sem estar fisicamente bem preparado - faço jogging, exercício, etc.
O Estado Novo exigia aos professores um atestado de robustez física.
Assumo a robustez física como condição de sobrevivência na sala de aula. Por outro lado, ser negro é uma grande vantagem para lidar com minorias. A maioria do corpo docente são mulheres de etnia portuguesa. Se alguém estiver interessado em perceber o que é a violência sobre as mulheres é entrar numa sala de aula. Combater a violência contra as mulheres é combater a indisciplina nas escolas. Mas o que temos é um discurso académico politicamente correcto que, ao mesmo tempo que defende a condição da mulher, defende exageradamente a condição do aluno que massacra essa mulher. Os governos passam e este problema arrasta-se. Devíamos ter vergonha disso.
Voltemos à empatia. Não faz falta?
O ensino assenta em três pilares - conhecimento, professor e aluno - e nós passámos de um ensino erradamente centrado no professor para um ensino ainda pior centrado no aluno. O referencial tem de ser o conhecimento pois ao ser abstracto cria obrigações para docentes e alunos. A empatia na sala de aula não é entre aluno e professor. Não quero que os alunos gostem de mim. Quero que gostem da História que ensino. Não preciso de gostar deles. Basta ter paixão por aquilo que ensino.
É errado centrar o ensino no aluno?
Se o ensino é centrado no aluno e o aparelho ideológico prepara as pessoas para isso, fica essa marca no subconsciente. Quando o professor entra na aula e no subconsciente dele está a ideia de que o ser mais precioso é o aluno, vai remover tudo o que o atrapalha: a ordem, o esforço e, às vezes, o conhecimento. Se na cabeça dele está sempre a martelar que o conhecimento é o mais importante, facilmente remove aquilo que atrapalha o conhecimento, como por exemplo alunos mal comportados. É o ruído que tem de sair porta fora. O ensino centrado no aluno é um dos fundamentos da indisciplina, mas outro é o estatuto do aluno.
Mas o actual até é mais punitivo.
É no papel. Digo que o estatuto do aluno é uma fonte de indisciplina porque quando se quer regular relações sociais a partir de documentos escritos é preciso que tenham valor social e simbólico, que só se adquire depois de muitos anos, gerações. Leis que regulam comportamentos têm de ser estáveis para entrarem na cabeça de alunos e de professores. Quando as regras são estáveis também contaminam as famílias, a comunidade e tudo o resto. O que se fez nos últimos 20 anos com os sucessivos estatutos do aluno foi matar a possibilidade de se resolver problemas a partir de documentos escritos.
E qual é a solução?
Dar poder à palavra do professor para que resolva o problema da indisciplina como entender. Nem que fosse uma medida temporária para higienizar a função do documento escrito, dos estatutos.
Dar a palavra aos professores implica reconhecer também a sua autoridade.
E enquanto não se confiar nos professores, o problema da indisciplina não se resolve. Só que, incrivelmente, quem não confia nos professores são os cientistas da educação, sempre a emitir regras sobre como trabalhar, o que fazer e não fazer.
Essas regras condicionavam-no?
Comecei tão incompetente como qualquer professor. Ao fim de uns anos, cortei completamente com o chamado ensino auto: o ensino em que não é o professor que ensina é o aluno que aprende, não é o professor que dá nota é o aluno que auto-avalia e não é o professor que impõe regras é o aluno que negoceia essas regras com o professor. Nas minhas aulas, eu ensino e os alunos aprendem. Nunca promovi auto-avaliação dos alunos e nesse aspecto fui contra a lei. Se sei que é uma fonte de perda de autoridade porque vou por esse caminho?
Que regras impunha?
As mesmas que a mim mesmo. Chegar a horas, trazer material, estar quieto e calado. Depois, nos primeiros 15 ou 20 minutos de aula sou eu que falo. É a parte da aula autoritária e expositiva. Não admito interrupções. Se permito uma pergunta e respondo, voltarei a ser interrompido e já não saio do mesmo lugar. Os alunos tomam notas, memorizam e tiram dúvidas no fim.
E correu sempre tudo bem?
No início do ano há sempre uns espertos que querem interromper. A minha reacção é dizer "Pegue nas suas coisas e rua!" O maior trunfo do professor é o dom da palavra. Se um docente não impõe silêncio nos primeiros 15 minutos da aula, vai andar 20 anos sem saber construir uma frase pois nunca treinou o direito que tem de falar. O ensino participativo não percebe a importância da palavra. Se imponho 20 minutos - e às vezes 90 - para expor a matéria, ao fim de uns anos já sei seduzir pela palavra - entoar, baixar a voz, contar histórias. Isto é muito exigente. Para expor a matéria durante 20 minutos é preciso estar bem preparado. Para dar uma aula de 90 minutos com os alunos quietos e calados tenho de saber contar muito bem a história. Parte da culpa é também dos professores, que gostam de ser intelectualmente preguiçosos. Hoje nenhum professor é autoritário se não for competente no domínio do conhecimento. Se os alunos percebem que sabemos o que estamos a ensinar, acatam as regras mais radicais que possam imaginar. Chegava a pôr na rua o mesmo chico-esperto todos os dias. Ao fim de um mês, chegava a dizer ao aluno que ele já estava chumbado.
Desistia dele?
Ou quero salvar todos e vou perder todos ou castigo um ou dois e salvo 20 e tal. Já expulsei alunos para sempre da minha sala.
Isso é contra a lei?
Toda a escola sabia, os pais sabiam, mas nunca ninguém contestou. Sabe porquê? Havia silêncio e os alunos aprendiam.
No seu livro "A Pedagogia da Avestruz", admite que teve atitudes radicais.
Tive um aluno que ficava à porta da sala a gozar enquanto os colegas entravam. Um dia em que entrou, agarrei-o com a toda a força e rebentei-lhe a camisa e só não lhe bati? Ficou de tal maneira assustado que nunca mais apareceu nas minhas aulas. Nesse ano tive o meu carro riscado de ponta a ponta. Mas nunca contestei. É o preço a pagar. Mas há outros focos de indisciplina como é o caso do currículo, que promove a instabilidade das regras e não permite ter uma ideia clara do que é uma aula. Um aluno entra numa aula de 45 minutos, sai e entra noutra de 90, a seguir vai almoçar e tem outra de 45. Essa inconstância torna impossível sedimentar na cabeça dos alunos as regras para estar numa aula. Com tantos especialistas em educação é incrível que não se tenha percebido que a ideia estável de aula corresponde à ideia estável de comportamento.
As famílias são empecilhos?
São empecilhos e criaram uma confusão entre o papel do professor e o papel do pai, o papel do aluno com o papel do filho. Isto foi terrível no plano da autoridade. A escola abriu-se à comunidade de tal forma que agora qualquer um se sente com autoridade para dizer o que os professores deviam ensinar. Quando a escola se fechar sobre ela própria, não terá de se justificar o porquê das regras que aplica.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Onomatopeias, palavras que imitam os sons e ruídos da Natureza, sons de objectos e as vozes dos animais!

Onomatopeia

Onomatopeia: significa imitar um som com um fonema ou palavra. Ruídos, gritos, canto de animais, sons da natureza, barulho de máquinas e o timbre da voz humana fazem parte do universo das onomatopeias.
Exemplos:
Aaai! – grito de dor
Ah! – grito de surpresa, dor, medo, pavor ou descoberta
Ah! Ah! Ah! – risada ou gargalhada
Ahhh! – Aaah!, alívio
Ahn! – choro Arf! – animal arfando, ofegante
Argh! – nojo
Atchim ou ahchoo! – espirro


Bah! – desagrado
Bam! – tiro de revólver
Bang! – tiro
Baroom! Baruuum! - trovões ou explosão de bomba atômica
Baw! ou buá! – choro
Bóim – batida na cabeça com objeto
Bawoing! - corda de aço após soltar flecha.
Bash! ou bow – queda
Bbrrzz! – sintonia de rádio
Beep! – bip, ruído eletrônico
Biff! – soco no queixo
Blah! baaa! buuu! – zombaria
Blast! bruum! – explosão
Bleahh! – zombaria
Bonc! bou! – cabeça com cabeça
Boom! bum! – tiro, explosão
Boomp! – choque por queda
Boot! tum! – pontapé traseiro
Booo! uuu! – vaia
Bounce! bóim! – mola soltando, animal pulando
Brrr! – sensação de frio
Brrr booom! – trovão
Buow! – choro
Burp! – arroto
Buzzz! bzzz! – abelha voando; cochicho



Chomp! nhoc! nhac! nhec!- mastigar
Chop! tchap! tchape! tchope! – chapinhar, patinar, chafurdar na lama
Clang!, blém!, blém! – batida em objeto metálico
Clap! clap! Clap! plec! plec! – palmas
Click clic! – ligar ou desligar
Clink! plic! – piscar de olhos
Clomp! tlum! vap! vop! – animal grande abocanhando objeto ou comida
Coff! oss! uss! – tosse por asfixia.
Crack! prac! prec! – quebrando
Crash! Praaa! – objeto grande se chocando com outro; estouro
Crunch! croc! – mastigar torradas

Ding! dim! plim! trim! – campainha
Drip! pim! ping! plim! plic! – gota
Dzzzt! bzzzt! – vôo curto de abelha; rápido cochicho; ruído no processo da solda elétrica

Eeek! ic! – soluço
Er... Ahn ... – indecisão

Gasp! Ufa! – cansaço
Glub! glub! Glub! blub! glug! – líquido sendo engolido; beber água
Grrr! – animal ou pessoa grunhindo
Gulp! glup! – engasgo

Ha! Ah! Ah! – riso de satisfação, gargalhada
Hã? Huh? hein? – interrogação
He! he! he! eh! eh! rê! rê! – risinho de satisfação
Hmmm hum... – reflexão
Honk! fom! fom! – buzina
Hoot! uuu! – vaia
Hum! – satisfação

Ih! ih! ih! ih!, ri! ri! ri! – riso ridículo
Ioo-hoo! iu-uu!, u-uu! – chamamento a distância

Ka-boom! ta-bum! – bomba
Klunk! clunc! plunc! tlunc! – ruído surdo de objeto caindo
Knock! Knock! toc! toc! – batida

Meow! miau! – miado de felino
Mmm! huuum! – satisfação; reflexão; espanto, dúvida; mente trabalhando
Mooo! muuu! – mugido de búfalo
Munch! chomp! – mastigada de animal grande

Oof! ufa! – suspiro de cansaço ou dor
Oops! upa! epa! – espanto; medo; surpresa
Ouch! ai! – grito de dor
Ow! ouch! – desabafo de dor

Pat! pat! tap! tap! – tapinha carinhoso
Pfft! pfft! phfpt! – cuspir; desprezo
Ping! – gota caindo
Plomp plom! – fruto caindo de árvore
Plop! poc! pok! – batida em objeto oco; coaxar de sapo; perna de pau
Poof! puf! – desaparecer de repente.
Poof! puf! – cansaço
Pow! pou! – soco
Psst! – expulsar ou chamar atenção

Rat-rat-rat! rá-tá-tá! ratataaá-tá – metralhadora
Rawww! Grrr-ou! – rugido de gorila
Riiinch! – relincho
Ring! ding! – campainha tocando
Rip! – rasgando; tesoura cortando
Roar! rawww! – rugido

Screeech! iééé! – freada de carro
Sigh! ai-ai! – suspiro
Slam! blam! – porta batendo
Slop! blob!, blab! – pessoa ou animal babando
Slurp! lamb! – lambida
Smack! vjjj! – estalado; Mmm!, beijo
Smash! paft! plaft! – tapa, bofetão; esmagamento; amassamento
Snap! tlec! – estalar os dedos
Snip-snip! rasg! riip! – rasgar
Snore! ron! ronc! – roncar
Snort! – ronco
Sniff! fniff! chift! – aspirar, fungar; cão ou outro animal farejando uma pista
Sob! ahn! – choro
Soc! pow! sock! – porrada
Splash tchá! chuá! – pessoa ou objeto caindo na água
Splait splash! – queda na água; salto de trampolim
Splop! ploc! ploct! plop! – queda de objeto oco
Sssss! Ssss! – objeto queimando; silvo da cobra
Swat! zip! – objeto arremessado; fecho éclair
Swish! tchuf! – pistola de água; esguicho
Swooish! fuiiim! vuum! zum! – algo cortando o ar rapidamente; zunindo

Tatata! tarará! – corneta
Thud! tum! – pancada surda
Thwack! plaft! pleft! – chicotada
Tickle! tic! tic! tic! – cócegas
Tic-tac – mecanismo de relógio
Tick-tock – tic tac do relógio; torneira pingando
Tingeling! blim-blém! blim-blom! – campainha moderna; sinos tocando
Toing! tóim! bóim! póim! – mola se desprendendo; personagem pulando
Trash! trá! pra! – objeto se partindo; lixo caindo
Trim! trim! prim! – toque de telefone
Tsk! tss-tss! – risadinha entre os dentes; desprezo; abrir uma tampa de garrafa de bebida

Ugh! Ug! – exclamação
Uh-HuH! ã-hã! – assentimento
Uhn! hã! – surpresa
Ungh! – choro

Va-voom! – objeto cortando o ar
Vop! – objeto passando rápido no ar
Vrom! brum! – arranque de carro

Wap! vap! – golpe com objeto
Whack! pow! – porrada; golpe
Wham! bam! – batida de porta
Whap! vapt! – objeto zunindo no ar e atingindo o alvo; porta batendo
Wheee! fiii! – bomba caindo
Whew! uf! – suspiro de alivio ou expressão de cansaço; expiração
Whiz! zim! tzim! – zunido; ricochete de balas
Whomp! vump! – queda
Whoosh! swooish! – ar sendo rasgado por objeto em velocidade
Wow! uau! – exclamação, admiração

Yeow! uai! – exclamação; espanto
Yeowtch! – exclamação
Yipe! ai! – dor

Zak! vap! – pancada, cutelada
Zap! – choque elétrico
Zing! zim! – sibilar da flecha
Zip! vuup! vap! – zunido de objeto arremessado; golpe súbito; zíper fechando
Zok! pof! tou! – pedrada na cabeça
Zoom! zum! zoop! – movimento rápido
Zowie! zum! – zumbido
Zzz! – zumbido de inseto

Fonte:

http://www.marel.pro.br/onomat.htm

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O que é um Pleonasmo?

O pleonasmo é uma Figura de Estilo, é a repetição de um termo ou ideia, evidente ou inútil na frase. É uma repetição exagerada, é completamente desnecessária e chega até a ser irritante para quem ouve.
Lembram-se do pleonasmo que a Adriana disse na sala de aulas?
Pleonasmo – Repetição de uma ideia já expressa.

Exemplo:

Vi, claramente visto, o lume vivo.” (Camões)

“Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!” (Fernando Pessoa)


Fontes:
http://www.notapositiva.com/resumos/portugues/figurasdeestilo.htm

terça-feira, 15 de outubro de 2013

As Classes de Palavras-classificação


em esquema, podemos representá-las assim:
Fonte:

Ideias para o Clube das Artes

Através desta experimentação, os alunos são convidados a confrontar-se com formas de expressão antigas e contemporâneas ao nível das diferentes técnicas artísticas, procurando-se assim que adquiram e alarguem o seu leque de conceitos ao nível artístico. O clube terá também a exposição e venda dos trabalhos.



Visita das Artistas do Clube das Artes à Exposição na Biblioteca da Escola - Literatura e Arte

"A Menina do Mar" de Sophia de Mello Breyner Andresen
Muito atentas para tirarem ideias...


Mochos

Presépios







Fontes:
http://comunidade.sol.pt/blogs/olindagil/archive/2013/09/12/ESTE-ANO-LECTIVO-IREI-DESENVOLVER-UMA-VEZ-MAIS-O-CLUBE-DAS-ARTES.aspx

Processos de Formação de Palavras

As palavras estão em constante processo de evolução, o que torna a língua um fenómeno vivo. Enquanto alguns vocábulos caem em desuso (arcaísmos), outros nascem (neologismos) e outros mudam de significado com o passar do tempo.
Na Língua Portuguesa, em função da estruturação e origem das palavras encontramos a seguinte divisão:
  • palavras primitivas – não derivam de outras (ex: casa, flor)
  • palavras derivadas – formadas a partir de uma outra palavra pré-existente (ex: casebre, florzinha)
  • palavras simples – palavras que só possuem um radical (ex: couve, flor)
  • palavras compostas – palavras que se formam a partir da junção de duas ou mais palavras (ex: couve-flor, aguardente)
Formação de Palavras 


Há novas palavras que entram na nossa língua, quer pelo processo de AFIXAÇÃO quer pelo processo
de COMPOSIÇÃO.

 PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS

Afixação 
prefixação, sufixação, parassíntese
⋅ flexão
⋅ modificação
⋅ derivação

Composição 
⋅ c. morfológica c. morfo-sintáctica


A AFIXAÇÃO verifica-se quando se junta um afixo a uma forma base (pode ser um radical, um tema
ou uma palavra):

radical -  É o núcleo de uma palavra. Encontramo-lo se retirarmos os afixos.
Ex. pen é o radical de pena
chor é o radical de chorar; lápis é o radical de lápis

tema - É composto pelo radical e pelo constituinte temático. Este último é um sufixo que tem o 
nome de... 
                           Índice temático (-a, -o, -e) nos nomes e adjectivos 
                           Vogal temática (-a, -e, -i) nos verbos 
Ex. Clara é o tema de claramente, formada por... 
Clar (radical) + a (vogal temática) 

palavra -  É formada pelo tema + flexão. Ex. lavasse é formado pelo tema lava+sse (sufixo de 
flexão de tempo – modo e pessoa-número) 

Ex: imperfeita              perfeitamente                 imperfeitamente            amanhecer 
       prefixo                      sufixo                          prefixo sufixo             parassíntese

Parassíntese – processo de acrescentamento dos dois tipos de sufixo em simultâneo . Em português,
este processo serve normalmente para formar verbos a partir de formas base adjectivais ou nominais. Ex:
apadrinhar, apodrecer, ajoelhar, engordar, emagrecer, empobrecer,...

 Flexão - Os nomes e os adjectivos flexionam-se em número e os verbos em tempo, modo e
aspecto.
Ex. na expressão “campos verdes”, o nome, “campos” e o adj. “verdes” apresentam o sufixo do
plural –s.
A forma verbal “cantavas” é constituída pelo sufixo (-va), que indica o tempo- modo, e
pelo sufixo –s, que indica a pessoa e o número (2ª pessoa do singular).

 Modificação – consiste num processo de associação de um afixo(prefixo ou sufixo)
modificador a um radical, que não vai determinar, alterar a classe gramatical da palavra.

 Classes gramaticais
 Prefixos modificadores
 Sufixos modificadores
 mercado(nome)


  hipermercado (nome) 
 hiper- 

 social (adjetivo)  


  anti-social (adjetivo)
 anti- 

 cão (nome) cãozinho (nome)

 -zinho 
escrever (verbo) escrevinhar (verbo)

 -inhar

Derivação – consiste num processo de associação de um afixo(prefixo ou sufixo) derivacional
a uma forma de base, que vai determinar a classe gramatical da palavra.


 Classes gramaticais
 Prefixos derivacionais
 Sufixos derivacionais
 vírus(nome) anti-vírus (adj.) 
 anti- 

guerra (nome) guerrear (verbo) 

 -ear 

 breve (adj.) brevemente(adv.)

 -mente 
 



A COMPOSIÇÃO CONSISTE EM JUNTAR bases de palavras para formar uma nova palavra. A junção origina uma só unidade com um novo significado.

Composição morfológica: consiste na junção de dois ou mais radicais (unidades não
autónomas, frequentemente raízes gregas ou latinas), exigindo, de um modo geral, a
presença de uma vogal de ligação (-o ou –i).

Ex: biblioteca (bibli-o- teca); cardiologia (cardi-o-logia); herbívoro (herb-i-voro), luso-africano, político-cultural, luso-descendente;

Composição morfo-sintáctica: consiste na associação de duas ou mais palavras. Essas
palavras podem ser:

 - dois nomes ou adjectivos com o mesmo grau de importância.
Ex: rádio-gravador, surdo-mudo. Amor-perfeito;
 - dois nomes, sendo o sentido do primeiro modificado pelo valor semântico do segundo.
Ex: aluno - modelo; baleia - fêmea, couve-flor;
 - um verbo e um nome.
 Ex: abre-latas; guarda-jóias; quebra-mar, guarda-sol


Além desses processos, a língua portuguesa também possui outros processos para a formação de palavras / renovação do léxico, tais como:
  • Onomatopeia: reprodução imitativa de sons. São as palavras formadas por imitação de um som natural. Muitos dos nomes e verbos que referem vozes de animais têm origem em onomatopeias e são, por isso, palavras onomatopaicas. Ex: ão-ão, zurrar, tique - taque,  pingue-pingue, zunzum, miau).
  • Abreviação vocabular: redução da palavra até o limite de sua compreensão (ex: metro, moto, pneu, foto, dr., obs.)
  • Acrónimos - O acrónimo é uma palavra formada pela primeira ou mais letras de partes sucessivas de uma locução correspondente ao nome de objectos, fenómenos, doenças, instituições, organismos, etc.. 
  • Ex: byte (binary term); ovni (objecto voador não identificado); sida (síndroma de imunodeficiência adquirida) 
  • Siglas: a formação de siglas utiliza as letras iniciais de uma sequência de palavras. A sigla consiste na redução de uma palavra (ou de um grupo de palavras) às suas iniciais, para designar o nome próprio de uma instituição, entidade, organismo, etc. Nas siglas, todas as letras são maiúsculas. 
  • Ex: TAP (Transportes Aéreos Portugueses); CPLP (Comunidade de Povos de Língua Oficial Portuguesa) 
OMS: Organização Mundial de Saúde
RTP: Rádio Televisão Portuguesa
ONU: Organização das Nações Unidas
  • Neologismo: nome dado ao processo de criação de novas palavras, ou para palavras que adquirem um novo significado.
  • A neologia é um processo de inovação lexical que consiste na formação de novas palavras que respondem à necessidade de referir novas realidades. As novas palavras, neologismos, constituem um enriquecimento lexical imprescindível para a renovação da língua e formam-se por processos variados, incluindo os já referidos da afixação e composição. 
  • Empréstimo é a adopção de palavras estrangeiras. 
  • - A palavra pode ser adaptada, alterando a escrita original. Esta adaptação nem sempre é imediata e, por isso, é frequente aparecerem as duas grafias, durante certo tempo. 
  • Ex: futebol(football); golo(goal); champô (shampoo), dossiê (dossier);
  • - Quando, ou enquanto, não se dá a adaptação, a palavra mantém a forma original. 
  • Ex: airbag, stop, software, chip, pizza; 
  • - Noutros casos ainda, a palavra estrangeira é simplesmente traduzida. 
  • Ex: alta-fidelidade (hight fidelity); guarda-redes (goal- keeper) 



  • Amálgama é um processo de formação de uma nova palavra pela fusão de duas palavras truncadas. 
  • Ex: Informática (informar + automática) Diciopédia (dicionário + enciclopédia)
ex: croissant, surf, software, shopping, pizza, bife, andebol…
Fonte:
http://linguaportuguesa9ano.wordpress.com/2010/09/26/processos-de-formacao-de-palavras/
http://profteresa.no.sapo.pt/finfo9_formpalav.pdf


terça-feira, 8 de outubro de 2013

A Menina do Mar, de Sophia de Melo Breyner Andresen

A Menina do Mar, de Sophia de Melo Breyner Andresen - Parte I


«Era uma vez uma casa branca nas dunas, voltada para o mar. Tinha uma porta, sete janelas e uma varanda de madeira pintada de verde. Em roda da casa havia um jardim de areia onde cresciam lírios brancos e uma planta que dava flores brancas, amarelas e roxas.
Nessa casa morava um rapazito que passava os dias a brincar na praia.
 Era uma praia muito grande e quase deserta onde havia rochedos maravilhosos. Mas durante a maré alta os rochedos estavam cobertos de água. Só se viam as ondas que vinham crescendo de longe até quebrarem na areia com um barulho de palmas. Mas na maré vazia as rochas apareciam cobertas de limo, de búzios, de anémonas, de lapas, de algas e de ouriços. Havia poças de água, rios, caminhos, grutas, arcos, cascatas. Havia pedras de todas as cores e feitios, pequeninas e macias, polidas pelas ondas. E a água do mar era transparente e fria. Às vezes passava um peixe, mas tão rápido que mal se via. Dizia-se «Vai ali um peixe» e já não se via nada. Mas as vinagreiras passavam devagar, majestosamente, abrindo e fechando o seu manto roxo. E os caranguejos corriam por todos os lados com uma cara furiosa e um ar muito apressado.
O rapazinho da casa branca adorava as rochas. Adorava o verde das algas, o cheiro da maresia, a frescura transparente das águas. E por isso tinha imensa pena de não ser um peixe para poder ir até ao fundo do mar sem se afogar. E tinha inveja das algas que baloiçavam ao sabor das correntes com um ar tão leve e feliz.


Em Setembro veio o equinócio. Vieram marés vivas, ventanias, nevoeiros, chuvas, temporais. As marés altas varriam a praia e subiam até à duna. Certa noite, as ondas gritaram tanto, uivaram tanto, bateram e quebraram-se com tanta força na praia, que, no seu quarto caiado da casa branca, o rapazinho esteve até altas horas sem dormir. As portadas das janelas batiam. As madeiras do chão estalavam como madeiras de mastros. Parecia que as ondas iam cercar a casa e que o mar ia devorar o Mundo. E o rapazito pensava que, lá fora, na escuridão da noite, se travava uma imensa batalha em que o mar, o céu e o vento se combatiam. Mas por fim, cansado de escutar, adormeceu embalado pelo temporal.
De manhã quando acordou estava tudo calmo. A batalha tinha acabado. Já não se ouviam os gemidos do vento, nem gritos do mar, mas só um doce murmúrio de ondas pequeninas. E o rapazinho saltou da cama, foi à janela e viu uma manhã linda de sol brilhante, céu azul e mar azul. Estava maré vaza. Pôs o fato de banho e foi para a praia a correr. Tudo estava tão claro e sossegado que ele pensou que o temporal da véspera tinha sido um sonho.
Mas não tinha sido um sonho. A praia estava coberta de espumas deixadas pelas ondas da tempestade. Eram fileiras e fileiras de espuma que tremiam à menor aragem. Pareciam castelos fantásticos, brancos mas cheios de reflexos de mil cores. O rapaz quis tocar-lhes, mas mal punha neles as suas mãos os castelos trémulos desfaziam-se.
Então foi brincar para as rochas. Começou por seguir um fio de água muito claro entre dois grandes rochedos escuros, cobertos de búzios. O rio ia dar a uma grande poça de água onde o rapazinho tomou banho e nadou muito tempo. Depois do banho continuou o seu caminho através das rochas. Ia andando para o sul da praia que era um deserto para onde ninguém ia. A maré estava muito baixa e a manhã estava linda. As algas pareciam mais verdes do que nunca e o mar tinha reflexos lilases. O rapazinho sentia-se tão feliz que às vezes punha-se a dançar em cima dos rochedos. De vez em quando encontrava uma poça boa e tomava outro banho. Quando ia já no décimo banho, lembrou-se que deviam ser horas de voltar para casa. Saiu da água e deitou-se numa rocha a apanhar sol.


«Tenho de ir para casa», pensava ele, mas não lhe apetecia nada ir-se embora. E, enquanto assim estava deitado, com a cara encostada às algas, aconteceu de repente uma coisa extraordinária: ouviu uma gargalhada muito esquisita, parecia um pouco uma gargalhada de ópera dada por uma voz de «baixo»; depois ouviu uma segunda gargalhada ainda mais esquisita, uma gargalhada pequenina, seca, que parecia uma tosse; em seguida uma terceira gargalhada, que era como se alguém dentro de água fizesse «glu, glu». Mas o mais extraordinário de tudo foi a quarta gargalhada: era como uma gargalhada humana, mas muito mais pequenina, muito mais fina e muito mais clara. Ele nunca tinha ouvido uma voz tão clara: era como se a água ou o vidro se rissem.
Com muito cuidado para não fazer barulho levantou-se e pôs-se a espreitar escondido entre duas pedras. E viu um grande polvo a rir, um caranguejo a rir, um peixe a rir e uma menina muito pequenina a rir também. A menina, que devia medir um palmo de altura, tinha cabelos verdes, olhos roxos e um vestido feito de algas encarnadas. E estavam os quatro numa poça de água muito limpa e transparente toda rodeada de anémonas. E nadavam e riam.
- Oh! Oh! Oh! - ria o polvo.
- Que! Que! Que! - ria o caranguejo.
- Glu! Glu! Glu! - ria o peixe.
- Ah! Ah! Ah! - ria a menina.
Depois pararam de rir e a menina disse:
- Agora quero dançar.
Então, num instante, o polvo, o caranguejo e o peixe transformaram-se numa orquestra.
O peixe, com as suas barbatanas, batia palmas na água.
O caranguejo subiu para uma rocha e com as suas tenazes começou a tocar castanholas.
O polvo trepou para cima dos rochedos e esticando muito sete dos seus oito braços prendeu-os pelas pontas com as suas ventosas na pedra e, com o braço que tinha ficado livre, começou a tocar guitarra nos seus sete braços. Depois pôs-se a cantar.
Então a menina saiu da água, subiu para uma rocha e principiou a dançar. E a água junto dos seus pés ia e vinha e bailava também.
Escondido, atrás do rochedo, o rapaz, imóvel e calado, olhava.
Quando a cantiga e a dança acabaram, o polvo pegou na menina e com os seus oito braços muito escuros pôs-se a embalá-la.
- Vem aí a maré alta, são horas de nos irmos embora - disse o caranguejo.
- Vamos - disse o polvo.
Chamaram o peixe e puseram-se os quatro a caminho. O peixe ia à frente a nadar com a menina ao lado, depois vinha o polvo e no fim o caranguejo, sempre com um ar muito desconfiado e furioso.
Foram indo por entre as areias e as rochas, até que chegaram a uma gruta para onde entraram os quatro. O rapaz quis ir atrás deles, mas a entrada da gruta era muito pequena e ele não cabia. E como a maré estava a subir, teve que se ir embora, pois se ali ficasse morria afogado.
Foi para casa muito espantado com o que tinha visto e durante esse dia não pensou noutra coisa. Na manhã seguinte mal acordou foi a correr para a praia. Foi pelo caminho da véspera, tornou a esconder-se atrás das duas pedras, espreitou e ouviu as mesmas gargalhadas da véspera. A menina, o caranguejo, o polvo e o peixe estavam a fazer uma roda dentro de água. Estavam divertidíssimos. (...)»


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«A Menina do Mar», é um dos contos infantis mais conhecidos da grande mulher que foi Sophia de Melo Breyner, para quem não conhece, trata-se de uma história de amizade entre um rapaz e uma menina, em que ambos procuram dar a conhecer ao outro o seu mundo, respectivamente, a terra e o mar. A inocência de ambos, a simplicidade das pequenas coisas, os laços de amizade que se desenvolvem são exemplos que esta grande autora retrata de uma forma absolutamente encantadora e mágica.

A Menina do Mar, de Sophia de Melo Breyner Andresen - Parte II

« (...)
O rapaz, louco de curiosidade, não conseguiu ficar quieto mais tempo. Deu um salto e agarrou a menina.
- Ai, ai, ai! Que desgraça! - gritava ela.
O polvo, o caranguejo e o peixe tinham desaparecido, aterrorizados, num abrir e fechar de olhos.
- Ó polvo, ó caranguejo, ó peixe, acudam-me, salvem-me - gritava a Menina do mar.
Então o polvo, o caranguejo e o peixe, apesar de estarem cheios de medo, saíram detrás das algas onde se tinham escondido, e começaram a tentar salvar a Menina. Faziam o que podiam: o polvo trepava pelas pernas do rapaz, o caranguejo com as suas tenazes beliscava-lhe os pés, o peixe mordia-lhe as canelas. Mas o rapaz era maior e tinha mais força, deu-lhes alguns pontapés e fugiu para longe com a Menina do mar que continuava a chamar:
- Ó polvo, ó caranguejo, ó peixe!
- Não grites, não chores, não te assustes - dizia o rapaz. Eu não te faço mal nenhum.
- Eu sei que me vais fazer mal.
- Que mal é que eu hei-de fazer a uma menina tão pequenina e tão bonita?
- Vai-me fritar - disse a Menina do mar. E pôs-se outra vez a chorar e a gritar: - Ó polvo, ó caranguejo, ó peixe!
- Eu, fritar-te! Para quê? Que ideia tão esquisita! - disse o rapaz espantadíssimo.
- Os peixes dizem que os homens fritam tudo quanto apanham.
O rapaz pôs-se a rir e disse:
- Isso são os pescadores. os pescadores é que apanham os peixes para fritar. Mas eu não sou pescador e tu não és um peixe. Não te quero fritar nem te quero fazer mal nenhum. Só te quero ver bem, porque nunca na minha vida vi uma menina tão pequenina e tão bonita. E quero que me contes quem tu és, como é que vives, o que é que fazes aqui no mar e como é que te chamas.
Então ela parou de gritar, limpou as lágrimas, penteou e alisou os cabelos com os dedos das mãos a fazerem de pente, e disse:
- Vamos sentar-nos os dois naquele rochedo e eu conto-te tudo.
- Prometes que não foges?
- Prometo.

Sentaram-se os dois um frente do outro e a menina contou:
- Eu sou uma menina do mar. Chamo-me Menina do Mar e não tenho outro nome. Não sei onde nasci. Um dia uma gaivota trouxe-me no bico para esta praia. Pôs-me numa rocha na maré vaza e o polvo, o caranguejo e o peixe tomaram conta de mim. Vivemos os quatro numa gruta muito bonita. O polvo arruma a casa, alisa a areia, vai buscar a comida. É de nós todos o que trabalha mais, porque tem muitos braços. O caranguejo é o cozinheiro. Faz caldo verde com limos, sorvetes de espuma, e salada de algas, sopa de tartaruga, caviar e muitas outras receitas. é um grande cozinheiro. Quando a comida está pronta o polvo põe a mesa. A toalha é uma alga branca e os pratos são conchas. Depois, à noite, o polvo faz a minha cama com algas muito verdes e muito macias. Mas o costureiro dos meus vestidos é o caranguejo. E é também o meu ourives: ele é que faz os meus colares de búzios, de corais e de pérolas. O peixe não faz nada porque não tem mãos, nem braços com ventosas como o polvo, nem braços com tenazes como o caranguejo. Só tem barbatanas e as barbatanas servem só para nadar. Mas é o meu melhor amigo. Como não tem braços nunca me põe de castigo. É com ele que eu brinco. Quando a maré está vazia brincamos nas rochas, quando está maré alta damos passeios no fundo do mar. Tu nunca foste ao fundo do mar e não sabes como lá tudo é bonito. Há florestas de algas, jardins de anémonas, prados de conchas. Há cavalos marinhos suspensos na água com um ar espantado, como pontos de interrogação. Há flores que parecem animais e animais que parecem flores. Há grutas misteriosas, azuis-escuras, roxas, verdes e há planícies sem fim de areia fina, branca, lisa. Tu és da terra e se fosse ao fundo do mar morrias afogado. Mas eu sou uma menina do mar. Posso respirar dentro da água como os peixes e posso respirar fora da água como os homens. E posso passear pelo mar todo e fazer tudo quanto eu quero e ninguém me faz mal porque eu sou a bailarina da Grande Raia. E a Grande Raia é a dona destes mares. É enorme, tão grande que é capaz de engolir um barco com dez homens dentro. Tem cara de má e come homens e peixes e está sempre com fome. A mim não me come porque diz que eu sou pequena demais e não sirvo para comer, só sirvo para dançar.


Quando ela dá uma festa convida os tubarões e as baleias e sentam-se todos no fundo do mar e eu danço em frente deles até de madrugada. E quando a Raia está triste ou mal disposta eu também tenho que dançar para a distrair. Por isso sou a bailarina do mar e faço tudo quanto eu quero e todos gostam de mim. Mas eu não gosto nada da Raia e tenho medo dela. Ela detesta os homens e também não gosta dos peixes. Até as baleias têm medo dela. Mas eu posso andar à vontade no mar e ninguém me come e ninguém me faz mal porque eu sou a bailarina da Raia.
E agora que já contei a minha história leva-me outra vez para o pé dos meus amigos que devem estar aflitíssimos.
O rapaz pegou na Menina do Mar com muito cuidado na palma da mão e levou-a outra vez para o sítio de onde a tinha trazido. O polvo, o caranguejo e o peixe lá estavam os três a chorar abraçados.
- Estou aqui - gritou a Menina do Mar.
O polvo, o caranguejo e o peixe, mal a viram, pararam de chorar e atiraram-se os três como cães aos pés do rapaz e começaram outra vez a mordê-lo e a picá-lo. O polvo com os seus oito braços chicoteava-lhe as pernas.
- Estejam quietos, parem, não lhe façam mal, ele é meu amigo e não me vai fritar - gritou-lhes a Menina do Mar. O polvo, o caranguejo e o peixe interromperam a pancadaria, espantadíssimos com estas palavras. O rapaz baixou-se e pôs a menina na água ao pé dos seus três amigos, que davam saltos de alegria e muitas gargalhadas. Pediu à Menina do Mar, ao polvo, ao caranguejo e ao peixe para voltarem no dia seguinte à mesma hora àquele mesmo sítio.
- Tenho tanta curiosidade da Terra - disse a Menina do Mar, - amanhã, quando vieres, traz-me uma coisa da terra.
E assim ficou combinado.
No dia seguinte, logo de manhã, o rapaz foi ao seu jardim e colheu uma rosa encarnada muito perfumada. Foi para a praia e procurou o lugar da véspera.
- Bom-dia, bom-dia, bom-dia - disseram a Menina, o polvo, o caranguejo e o peixe.
- Bom-dia - disse o rapaz. E ajoelhou-se na água, em frente da Menina do Mar.
- Trago-te aqui uma flor da terra - disse; chama-se uma rosa.

- É linda, é linda - disse a Menina do Mar, dando palmas de alegria e correndo e saltando em roda da rosa.
- Respira o seu cheiro para veres como é perfumada.
A Menina pôs a sua cabeça dentro do cálice da rosa e respirou longamente.
Depois levantou a cabeça e disse suspirando:
- É um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfume assim. Mas estou tonta e um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas bonitas são alegres. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.
- Isso é por causa da saudade - disse o rapaz.
- Mas o que é a saudade? - perguntou a Menina do Mar.
- A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.
- Ai! - suspirou a Menina do Mar olhando para a Terra. Por que é que me mostraste a rosa? Agora estou com vontade de chorar.
O rapaz atirou fora a rosa e disse:
- Esquece-te da rosa e vamos brincar.
E foram os cinco, o rapaz, a Menina, o polvo, o caranguejo e o peixe pelos carreirinhos de água, rindo e brincando durante a manhã toda.
Até que a maré começou a subir e o rapaz teve que se ir embora. (...) »



A Menina do Mar, de Sophia de Melo Breyner Andresen - Parte III


« (...)
No dia seguinte, de manhã, tornaram a encontrar-se todos no mesmo sítio do costume.
- Bom-dia - disse a Menina do Mar. - O que é que me trouxeste hoje?
O rapaz pegou na menina do Mar,sentou-a numa rocha e ajoelhou-se a seu lado.
- Trouxe-te isto - disse. É uma caixa de fósforos.
- Não é muito bonito - disse a Menina.
- Não; mas tem lá dentro uma coisa maravilhosa, linda e alegre que se chama fogo. Vais ver.
E o rapaz abriu a caixa e acendeu um fósforo.
A Menina deu palmas de alegria e pediu para tocar no fogo.
- Isso - disse o rapaz - é impossível. O fogo é alegre mas queima.
- É um sol pequenino - disse a Menina do Mar.
- Sim - disse o rapaz - mas não se lhe pode tocar.
E o rapaz soprou o fósforo e o fogo apagou-se.
- Tu és bruxo - disse a menina - sopras e as coisas desaparecem.
- Não sou bruxo. O fogo é assim. Enquanto é pequeno qualquer sopro o apaga. Mas depois de crescido pode devorar florestas e cidades.
- Então o fogo é pior do que a Raia? - perguntou a Menina.
- É conforme. Enquanto o fogo é pequeno e tem juízo é o maior amigo do homem: aquece-o no Inverno, cozinha-lhe a comida, alumia-o durante a noite. Mas quando o fogo cresce demais, zanga-se, enlouquece e fica ávido, mais cruel e mais perigoso do que todos os animais ferozes.
- As coisas da terra são esquisitas e diferentes - disse a Menina do Mar. Conta-me mais coisas da terra.
Então sentaram-se os dois dentro de água e o rapaz contou-lhe como era a sua casa e o seu jardim e como eram as cidades e os campos, as florestas e as estradas.
- Ah! Como eu gostava de ver isso tudo - disse a Menina cheia de curiosidade.
- Vem comigo - disse o rapaz - eu levo-te à terra e mostro-te coisas lindas.
- Não posso porque sou uma Menina do Mar. O mar é a minha terra. Tu se vieres para o mar afogas-te. E eu se for para a terra seco. Não posso estar muito tempo fora de água. Fora de água fico como as algas na maré vaza, que ficam todas enrugadas e secas. Se eu saísse do mar, ao fim de algumas horas ficava igual a um farrapo de roupa velha ou a um papel de jornal, destes que às vezes há nas praias e que têm um ar tão triste e infeliz de coisa que já não serve e que foi deitada fora e que já ninguém quer.
- Que pena que eu tenho de não te poder mostrar a terra! - disse o rapaz.
- E eu que pena tenho de não te poder levar comigo ao fundo do mar para te mostrar as florestas de algas, as grutas de corais e os jardins de anémonas!


E nessa manhã o rapaz e a Menina, enquanto nadavam na água, iam contando um ao outro as histórias do mar e as histórias da terra.
No dia seguinte o rapaz chegou à praia, sentou-se ao lado da Menina do Mar e disse:
- Hoje trago-te uma coisa da terra que é bonita e tem lá dentro alegria. Chama-se vinho. Quem bebe fica cheio de alegria.
Enquanto dizia isto o rapaz pousou na areia um copo cheio de vinho. Era um daqueles copos muito pequenos que servem para beber licores. A Menina do Mar segurou o copo com as duas mãos e olhou o vinho cheia de curiosidade, respirando o seu perfume.
- É muito encarnado e muito perfumado - disse ela. - Conta-me o que é o vinho.
- Na terra - respondeu o rapaz - há uma planta que se chama videira. No Inverno parece morta e seca. Mas na Primavera enche-se de folhas e no Verão enche-se de frutos que se chamam uvas e que crescem em cachos. E no Outono os homens colhem os cachos de uvas e põem-nos em grandes tanques de pedra onde os pisam até que o seu sumo escorra. É a esse sumo dos frutos da videira que chamamos o vinho. Esta é a história do vinho, mas o seu sabor não o sei contar. Bebe se queres saber como é.

E a Menina bebeu o vinho, riu-se e disse:
- É bom e é alegre. Agora já sei o que é a terra. Agora já sei o que é o sabor da Primavera, do Verão e do Outono. Já sei o que é o sabor dos frutos. Já sei o que é a frescura das árvores. Já sei como é o calor duma montanha ao sol. Leva-me a ver a terra. Eu quero ir ver a terra. Há tantas coisas que eu não sei. O mar é uma prisão transparente e gelada. No mar não há Primavera nem Outono. No mar o tempo não morre. As anémonas estão sempre em flor e a espuma é sempre branca. Leva-me a ver a terra.
- Tenho uma ideia - disse o rapaz. - Amanhã trago um balde e encho-o com água do mar e algas. E tu pões-te dentro do balde para não secares e eu levo-te comigo a ver a terra.
- Está bem - disse a Menina. - Amanhã vou contigo dentro do balde de água. E vou ver a tua casa e vou ver o teu jardim e vou ver passar os comboios; e vou ver a noite numa cidade cheia de luzes, de gente e de carros. E vou ver os animais da terra, os cães, os cavalos, os gatos; e vou ver as montanhas, as florestas e todas as coisas que me contaste.
E assim o rapaz e a Menina do Mar passaram o resto da manhã a fazer planos para a aventura do dia seguinte. Até que a maré subiu e o rapaz foi-se embora.


No outro dia o rapaz veio para as rochas com o balde. Vinha muito alegre, entusiasmado com o seu projecto, cantando e dando saltos. mas quando chegou à poça de água encontroua Menina do Mar com um ar muito desesperado e o polvo, o caranguejo e o peixe todos três com cara de caso.
- Bom-dia - disse o rapaz. Trago aqui o balde. Vamos embora depressa.
- Eu não posso ir - disse a Menina do Mar. E desatou a chorar como uma fonte.
- mas porquê? - perguntou o rapaz.
- Por causa dos búzios.Os búzios têm muito bom ouvido, ouvem tudo, são os ouvidos do mar. E ouviram as nossas conversas e foram contá-las à Raia que ficou furiosa e agora eu já não posso ir contigo.
- Mas a Raia não está aqui. Mete-te dentro do balde e vamos embora depressa.
- É impossível - disse a Menina do Mar. A Raia Ordenou aos polvos que não me deixassem passar. As rochas estão cheias de polvos escondidos que nós não vemos, mas que nos vêem e espiam cada um dos nossos gestos. Tenho que te dizer adeus para sempre. Amanhã já não volto aqui porque a Raia, para me castigar de eu ter querido fugir, decidiu que esta noite ao nascer da Lua eu serei levada pelos polvos, para uma praia distante, que eu não sei como se chama nem onde fica. E nunca mais nos poderemos encontrar.
- Vamos experimentar fugir- disse o rapaz. Eu com as minhas duas pernas corro mais do que os polvos com os seus oito braços, que nem são braços nem são pernas.

E, tendo dito isto, pôs a Menina do Mar dentro do balde e pôs-se a correr. Mas, no mesmo instante, as rochas cobriram-se de polvos. Para qualquer lado que ele olhasse só via polvos. Procurou uma aberta por onde passar mas não havia nenhuma. Em sua roda os polvos tinham feito um círculo fechado. E ele estava no meio do círculo e não podia fugir. Então tentou saltar por cima dos polvos, mas logo dezenas de tentáculos lhe ataram as pernas. (...) »
A Menina do Mar, de Sophia de Melo Breyner Andresen - Parte IV


« (...)
- Larga-me, larga-me - dizia a Menina do Mar. Larga-me senão matam-te.
- Não, não te largo - respondeu o rapaz.
Mas já os polvos lhe envolviam a cintura e o peito, lhe prendiam os ombros, lhe atavam os pulsos e ele caiu nas rochas sem poder fazer nenhum gesto. Mas a sua mão ainda não tinha largado o balde. Até que um polvo se enrolou à roda do seu pescoço e o foi apertando lentamente. Então o rapaz viu o céu ficar preto, deixou de ouvir o barulho das ondas e esqueceu-se de tudo. Estava desmaiado. Acordou com a água a bater-lhe na cara. A maré tinha subido e as ondas já quase cobriam a rocha onde ele estava caído. Levantou-se e todo o seu corpo lhe doía, coberto de marcas deixadas pelas ventosas dos polvos. Foi para casa devagar.
Passaram dias e dias. O rapaz voltou muitas vezes às rochas mas nunca mais viu a Menina nem os seus três amigos. Era como se tudo tivesse sido um sonho.


Até que chegou o Inverno. O tempo estava frio, o mar cinzento e chovia quase todos os dias. E numa manhã de nevoeiro o rapaz sentou-se na praia a pensar na Menina do Mar.
E enquanto assim estava viu uma gaivota que vinha do mar alto com uma coisa no bico. Era uma coisa brilhante que reflectia luz e o rapaz pensou que devia ser um peixe. Mas a gaivota chegou junto dele, deu uma volta no ar e deixou cair a coisa na areia.
O rapaz apanhou-a e viu que era um frasco cheio duma água muito clara e luminosa.
- Bom-dia, bom-dia - disse a gaivota.
- Bom-dia, bom-dia - respondeu o rapaz.
Donde é que vens e porque é que me dás este frasco?
- Venho da parte da Menina do Mar - disse a gaivota. Ela manda-te dizer que já sabe o que é a saudade. E pediu-me para te perguntar se queres ir ter com ela ao fundo do mar.
- Quero, quero - disse o rapaz. Mas como é que eu hei-de ir ao fundo do mar sem me afogar?
- O frasco que te dei tem dentro suco de anémonas e suco de plantas mágicas. Se beberes agora este filtro passarás a ser como a Menina do Mar. Poderás viver dentro da água como os peixes e fora da água como os homens.
- Vou beber já - disse o rapaz.
E bebeu o filtro.
Então viu tudo à sua roda tornar-se mais vivo e mais brilhante. Sentiu-se alegre, feliz, contente como um peixe. Era como se alguma coisa nos seus movimentos tivesse ficado mais livre, mais forte, mais fresca e mais leve.
- Ali no mar - disse a gaivota - está um golfinho à tua espera para te ensinar o caminho.
O rapaz olhou e viu um grande golfinho preto e brilhante dando saltos atrás da arrebentação das ondas. Então disse:
- Adeus, adeus, gaivota. Obrigado, obrigado.
E correu para as ondas e nadou até ao golfinho.
- Agarra-te à minha cauda - disse o golfinho.
E foram os dois pelo mar fora.


Nadaram muitos dias e muitas noites através de calmarias e tempestades.
Atravessaram o mar dos Sargaços e viram os peixes voadores. E viram as grandes baleias que atiram repuxos de água para o céu e viram os grandes vapores que deixam atrás de si colunas de fumo suspensas no ar. E viram os icebergues majestosos e brancos na solidão do oceano. E nadaram ao lado dos veleiros que corriam velozes esticados no vento. E os marinheiros gritavam de espanto quando viam um rapaz agarrado à cauda de um golfinho. Ma eles mergulhavam e desciam ao fundo do mar para não serem pescados.
Aí estavam os antigos navios naufragados com os seus cofres carregados de oiro e os seus mastros quebrados cobertos de anémonas e conchas.
Depois de nadarem sessenta dias e sessenta noites chegaram a uma ilha rodeada de corais. O golfinho deu a volta à ilha e por fim parou em frente duma gruta e disse:
- É aqui: entra na gruta e encontrarás a Menina do Mar.
- Adeus, adeus, golfinho. Obrigado, obrigado.
A gruta era toda de coral e o seu chão era de areia branca e fina. Tinha em frente um jardim de anémonas azuis.
O rapaz entrou na gruta e espreitou. A Menina, o polvo, o caranguejo e o peixe estavam a brincar com conchinhas. estavam quietos, tristes e calados. De vez em quando a Menina suspirava.


- Estou aqui! Cheguei! Sou eu! - gritou o rapaz.
Todos se voltaram para ele. Houve um momento de grande confusão. Todos se abraçaram, todos riam, todos gritavam. A Menina do Mar dançava, batia palmas e ria com gargalhadas claras como a água. O polvo fazia o pino. O caranguejo dava cambalhotas e o peixe dava saltos mortais. Depois de todas estas habilidades ficaram um pouco mais calmos.
Então a Menina do Mar sentou-se no ombro do rapaz e disse:
- Estou tão feliz, tão feliz, tão feliz! Pensei que nunca mais te ia ver. Sem ti o mar, apesar de todas as suas anémonas, parecia triste e vazio. E eu passava os dias inteiros a suspirar. E não sabia o que havia de fazer. Até que um dia o Rei do Mar deu uma grande festa. Convidou muitas baleias, muitos tubarões e muitos peixes importantes. E mandou-me ir ao palácio para eu dançar na festa. No fim do banquete chegou a altura da minha dança e eu entrei na gruta onde o Rei do Mar estava com os seus convidados, sentado no seu trono de nácar, rodeado de cavalos- marinhos. Então os búzios começaram a cantar uma cantiga antiquíssima que foi inventada no princípio do Mundo. Mas eu estava muito triste e por isso dancei muito mal.
- Porque é que estás a dançar tão mal? - perguntou o Rei do Mar.
- Porque estou cheia de saudades - respondi eu.
- Saudades? - disse o Rei do Mar. Que história é essa?
E perguntou ao polvo, ao caranguejo e ao peixe o que tinha acontecido. Eles contaram-lhe tudo. Então o Rei do Mar teve pena da minha tristeza e teve pena de ver uma bailarina que já não sabia dançar. E disse:
- Amanhã de manhã vem ao meu palácio.

No dia seguinte de manhã eu voltei ao palácio. E o Rei do Mar sentou-me no seu ombro e subiu comigo à tona das águas. Chamou uma gaivota, deu-lhe com o filtro das anémonas e mandou-a ir à tua procura. E foi assim que eu consegui que tu voltasses.
- Agora nunca mais nos separamos - disse o rapaz.
- Agora vais ser forte como um polvo.
- Agora vais ser sábio como um caranguejo - disse o caranguejo.
- Agora vais ser feliz como um peixe - disse o peixe.
- Agora a tua terra é o Mar - disse a Menina do Mar.
E foram os cinco através de florestas, areais e grutas.
No dia seguinte houve uma festa no palácio do Rei. A Menina do Mar dançou toda a noite e as baleias, os tubarões, as tartarugas e todos os peixes diziam:
- Nunca vimos dançar tão bem.
E o Rei do Mar estava sentado no seu trono de nácar, rodeado de cavalos- marinhos, e o seu manto de púrpura flutuava nas águas.»



Fonte:

TRABALHOS DOS MEUS ALUNOS "A MENINA DO MAR"






Trabalho da Lena

Trabalho da Camila


Trabalho da Margarida