sexta-feira, 25 de abril de 2014

O encontro de Salgueiro Maia com Marcelo Caetano



Revolução dos Cravos: 40 anos

Rubrica “Palavras com História…”


O encontro de Salgueiro Maia com o Presidente do Conselho:
«Quando entrei no Quartel, o ambiente que lá existia era de medo e de desejo que aquilo acabasse. As paredes pingavam água, pois os tiros tinham destruído as canalizações do sótão. Falei com o coronel comandante, que não atou nem desatou (…). Entretanto, estão a terminar os quinze minutos e eu volto para marcar novo período.
 Quando regressei ao Quartel, dirigi-me ao comandante e disse-lhe que, se ele não mandava, então eu queria falar com quem mandasse. Conduziram-me à presença de Marcello Caetano; mas para isso passei por uma antecâmara, onde se encontravam Moreira Baptista e Rui Patrício, chorando este como uma criança, olhando o infinito o primeiro.
Marcello estava pálido, barba por fazer, gravata desapertada, mas digno. Fiz-lhe a continência da praxe e disse-lhe que queria a rendição formal e imediata. Declarou-me já se ter rendido ao Sr. General Spínola, pelo telefone, e só aguardava a chegada deste para lhe transferir o Poder, para que o mesmo não caísse na rua!
Estive para lhe dizer que estava lá fora o Poder no povo e que este estava na rua. Declarou esperar que o tratassem com a dignidade com que sempre tinha vivido e perguntou o que ia ser feito dele. Declarei que certamente seria tratado com dignidade, mas não sabia para onde iria, pois isso não me competia a mim decidir. Perguntou a quem competia. Declarei que a «Óscar». Perguntou quem era «Óscar».
Declarei serem vários oficiais, incluindo alguns generais, isto para que ele não ficasse mal impressionado por a Revolução ser feita essencialmente por capitães. Perguntou-me ainda o que ia ser feito do ultramar. Declarei-lhe que a solução para a guerra seria obtida por conversações. Toda esta conversa, tida a sós, teve por fundo o barulho do povo a cantar o Hino Nacional e o Está na hora».

Fonte:
A A.P.H.*- Associação de Professores de História é uma associação científico-pedagógica de professores de História de todos os ciclos e graus de ensino.
Constituída em 1981 (D.R.132, 3ª série, 9/6/81), a APH é uma Associação de Utilidade Pública sem fins lucrativos (D.R. 140, 2ª Série, 20/6/95).

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