segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Exposição de trabalhos do 5º A "Um castro com monumentos megalíticos"


 No âmbito da disciplina de História e Geografia de Portugal, integrada no Plano Anual de Actividades do Departamento de Ciências Sociais e Humanas e em articulação com a Biblioteca Escolar, promovi a construção e a exposição dos trabalhos dos alunos do quinto ano. O castro teve a participação dos alunos do 5ºA.
Anta ou dólmene

Os trabalhos ficaram lindíssimos como podem ver.

Um alinhamento de menires

Um cromeleque

Um menir


O megalitismo é um fenómeno cultural que é representado, materialmente, pela utilização de grandes pedras, em granito ou xisto, quase sempre em bruto ou sumariamente afeiçoadas, com as quais se construíram, em recuadas épocas pré-históricas, determinado tipo de monumentos, tais como menires,cromelequesalinhamentoscistas e antas (ou dólmenes) ao longo do período Neolítico (V e IV milénios a. C.).
Os principais monumentos megalíticos são:
Menir: pedregulho alongado, impulsionado verticalmente no solo. Talvez a construção esteja relacionada com o culto do Sol.
Cromeleque: recinto circular grande, formado pelo conjunto de menires. Eles eram provavelmente santuários, monumentos com funções religiosas e, provavelmente primitivos observatórios astronómicos.
Alinhamentos: que consistem em vários menires dispostos em linha recta, é possível descobrir, desde a Dinamarca à regiãomediterrânica, os mesmos tipos de construção megalítica.
Anta ou Dólmen: edifícios feitos de grandes pedras verticais que formam uma parede que é coberta com várias grandes lajes horizontais. Eles eram grandes túmulos colectivos

Espalhando-se preferencialmente pela fachada atlântica europeia, as construções megalíticas, nomeadamente as antas ou dólmenes, evoluíram, arquitectonicamente, a partir do Neolítico Médio, isto é, sensivelmente do 5º. milénio antes de Cristo, até à Idade do Bronze.

Admite-se, hoje, que os dólmenes sempre estiveram recobertos por um montículo de terra e pedras, engenhosamente colocadas (ou, em alguns casos, só de terra ou só de pedras) que envolvia o túmulo megalítico, destacando-o quase sempre, na paisagem.

Porque estas pequenas colinas artificais apresentam, geralmente, a configuração de uma calote esférica, o povo passou a chamar-lhes mamoas, embora outros termos como “madorras”, etc., sejam também vulgares. A principal função destas era a de servir de túmulos para enterramentos colectivos.
Em Portugal existe uma grande densidade de monumentos megalíticos, emespecial na zona do Alto Alentejo. Dólmen do Zambujeiro em Évora, o menir daBulhoa em Reguengos de Monsaraz e o Cromeleque de Xarez, também emMonsaraz. .
Fontes:

sábado, 23 de novembro de 2013

Exposição em Braga - Mosteiro de Tibães - Dezembro 2013

A minha próxima exposição será na galeria do Mosteiro de Tibães,  em Braga, de 1 a 16 de Dezembro. Aguardo a vossa visita.


Mosteiro de Tibães

Venham visitar-me dia 1 de Dezembro pelas 15 horas!

Fotografia da minha amiga Fátima Inácio Gomes


Um local de sonho que conheço há muitos anos e que agora me recebe com carinho.
Obrigada!

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Língua portuguesa é 'idioma para o futuro' no Reino Unido


O Português foi considerado como um dos 10 idiomas estrangeiros mais importantes nos próximos 20 anos no Reino Unido, segundo um estudo do instituto British Council, divulgou hoje o Camões - Instituto da Cooperação e da Língua."Pela primeira vez, a língua portuguesa integra esta espécie de pequena lista das línguas consideradas 'vitais' num horizonte temporal de 20 anos, partilhando esse estatuto com o Espanhol, Árabe, Francês, Mandarim, Alemão, Italiano, Russo, Turco e Japonês", sublinhou o instituto português, num comunicado.
No relatório "Languages for the Future" (Línguas para o Futuro), que analisa as prioridades linguísticas do Reino Unido, é referido que a selecção de idiomas baseia-se "em factores económicos, geopolíticos, culturais e educacionais, incluindo as necessidades das empresas do Reino Unido no que respeita aos seus negócios com o exterior, as prioridades diplomáticas e de segurança e a relevância na Internet", indicou a mesma nota informativa.
Os autores do estudo britânico destacaram, segundo o instituto Camões, a utilização do português como língua de trabalho da União Europeia (UE) e em outros organismos internacionais, como a Organização dos Estados Ibero-americanos, União Africana, Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral e a União das Nações sul-americanas, mas também o facto de a língua portuguesa ser o quinto idioma mais utilizado na Internet.
"Outros estudos recentes têm vindo a indicar que a projecção da língua portuguesa se deve principalmente ao número de falantes de língua materna, ao número de países de língua oficial portuguesa, à presença e crescimento na Internet, à cultura, sobretudo ao nível da tradução de originais e, desde há alguns anos, à ciência, devido a um forte crescimento da produção de artigos em revistas científicas", acrescentou o instituto Camões.
Constituindo a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), os oito países de língua oficial portuguesa -- Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, S. Tomé e Príncipe e Timor-Leste - ocupam uma superfície de cerca de 10,8 milhões de quilómetros quadrados e, no seu conjunto, têm aproximadamente 250 milhões de habitantes.
Fonte:
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=93062

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Artistas lusófonos expõem no Casino Estoril

Termina no próximo dia 26 de novembro, na Galeria de Arte do Casino Estoril, a exposição ‘Artistas dos Países Lusófonos’, uma mostra de artes plásticas que reúne trabalhos de pintura, escultura, desenho e fotografia.


D.R.

Uma tela de Roberto Chichorro que integra a exposição do Casino, patente até 26 de novembro



Trata-se da segunda grande exposição coletiva que o Casino realiza em torno de artistas dos países lusófonos.
Participam, entre outros, criadores como Armanda Alves e Júlio Quaresma (de Angola); Calasans Neto e Renato Rodyner (do Brasil); David Levy Lima e Kiki Lima (de Cabo Verde); João Carlos Barros e Manuela Jardim (da Guiné-Bissau); e Butcheca, Chissano, Malangatana e Roberto Chichorro (de Moçambique).
Os artistas portugueses estão representados nesta mostra pelas obras de Armanda Passos, Nadir Afonso, Paulo Ossião e Rogério Timóteo, entre outros.
Estão ainda representados São Tomé e Príncipe (pelos artistas Ismaël Sequeira, José Chambel e René Tavares) e Timor-Leste (com obras de Abel Júpiter, Maria Dulce e Nhu Lien).
A mostra ficará patente todos os dias, das 15h00 às 24h00.
Fonte:

O Presépio do Clube das Artes


O Presépio do Clube das Artes - No âmbito da Planificação do Clube das Artes, integrada no Plano Anual de Actividades do Departamento de Ciências Sociais e Humanas e em articulação com a disciplina de História, promovi a construção e a exposição dos trabalhos dos alunos do Clube das Artes. 




O Presépio teve a participação dos alunos que o freuentam às quartas-feiras à tarde.

Pintura da vaquinha

Pintura da Virgem

Construção da gruta

Construção de São José

Pintura da ovelha

Secagem

Pintura do Menino Jesus



Secagem

Pintura de um rei Mago

Trabalho Final

O nosso Presépio


Ficou mesmo bonito! Parabéns aos artistas!


domingo, 10 de novembro de 2013

O barco dos Andresen da Dinamarca ancorou em Portugal, o antepassado de Sophia de Mello Breyner Andresen

Os antepassados de Sophia de Mello Breyner chegaram a Portugal em meados do século XIX, vindos da ilha de Föhr, no arquipélago das Frísias. Tudo começou com um adolescente de espírito aventureiro que viria a introduzir o nome Andresen no nosso país.
A história é rocambolesca e tem contornos próprios da literatura de aventura. Imagine-se a vida do jovem Jann Hinrich Andresen, com apenas 14 anos, na ilha de Föhr, no arquipélago das Frísias, no gelado mar do Norte, junto à costa da Dinamarca. Rodeados de água por todos os lados, ainda mais água fértil em vida, os habitantes da ilha não fugiam ao destino e dedicam-se unicamente ao mar. A indústria conserveira e a pesca eram as actividades que dominavam a pequena economia.
Estávamos no século XIX e na altura o isolamento da vida numa ilha era ainda mais constrangedor. Foi neste cenário que certo dia, em 1840, Jann Andresen pediu aos pais – Thomaz Andresen e Thunke Poppen – autorização para embarcar num veleiro.
Após semanas a viajar pelos mares da Europa, o barco ancorou no Porto numa manhã quente, e os marinheiros dinamarqueses tomaram conta da cidade. A bordo manteve-se o mais novo tripulante, o jovem Andresen, com a incumbência de tomar conta da embarcação. Às tantas, aborrecido, encontrou uma pele de um urso-polar e resolveu estendê-la na coberta do barco, com o objectivo de atrair transeuntes.
Por meio de gestos, contava aos curiosos a história da caça ao urso-polar e cobrava 10 réis a quem quisesse entrar no barco para apreciar de perto a pele do animal. O negócio corria-lhe bem até que o comandante, regressado de terra, se deparou com aquele cenário. Irado com a ousadia do rapaz, o comandante perseguiu-o até onde pôde com o intuito de o sovar. Mais rápido e mais jovem, Andresen refugiou-se em terra e nunca mais os seus companheiros lhe puseram a vista em cima.
Maria Alice Rios contou esta aventura no livro Famílias Tradicionais do Porto. Do resto da vida de Jann Hinrich Andresen, o que se sabe é que as coisas lhe correram de feição. Ficou em terra e nunca mais pensou voltar à gelada ilha de Föhr.
Podia não saber falar uma única palavra de português, mas tinha jeito para os negócios. Primeiro, empregou-se numa loja de candeeiros. Deu-se bem. Mais tarde, seguiu a sua paixão: os vinhos. Trabalhou afincadamente e era obstinado nos negócios. Em poucos anos, criou uma verdadeira fortuna com base no vinho do Porto. E aprendeu a falar e a escrever português num ápice. Em 1854, com a anexação das Frísias pelo imperador alemão, durante a Guerra dos Ducados, Jann Hinrich reagiu violentamente e pediu a naturalização portuguesa. D. Fernando II, príncipe regente, concedeu-lha, no Paço de Sintra. A partir de então, o dinamarquês, que na altura já era um respeitado homem de negócios, passou a chamar-se João Henrique Andresen. E assim ficou conhecido para sempre.
Nas gerações que se seguiram, a fortuna da família foi consolidada e os negócios floresceram. João Henrique júnior comprou a Quinta de Campo Alegre, onde a família viveu muitos anos. O primogénito do aventureiro dinamarquês casou-se com uma senhora alemã, discípula do pintor Katzenstein, que era obcecada por flores e plantas. Nos 17 hectares da quinta esta senhora mandou construir um jardim romântico e ecléctico, bem ao estilo bucólico da época.
Foi na Quinta de Campo Alegre que a escritora Sophia de Mello Breyner – 4.ª geração dos Andresen – passou a infância. A casa teve, aliás, grande impacto na obra da poetisa, a primeira mulher a ganhar o Prémio Camões (1999). ” Foi um território fabuloso com uma grande e rica família, servida por uma criadagem numerosa”, disse numa entrevista em 1993. Nessa altura, já a Quinta do Campo Alegre tinha sido transformada em Jardim Botânico do Porto, hoje, ironicamente, dirigido pela arquitecta paisagista Teresa Andresen, descendente de João Henrique Andresen.

sábado, 9 de novembro de 2013

Fábrica abandonada em Faro transforma-se em centro de arte

Antigo armazém de processamento de alfarroba transformou-se na Fábrica dos Sentidos







Antigo armazém de processamento de alfarroba dá ‘abrigo’ a artistas de várias áreas


A ideia estava na cabeça de ‘Mató' há muito. Depois de ter vivido em vários países, decidiu-se a importar para Faro um conceito inovador: um espaço comunitário para artistas, empreendedores ou associações. Um antigo armazém de processamento de alfarroba transformou-se, desde o início de 2013, na Fábrica dos Sentidos. Agora, abre portas ao público, com eventos diários como concertos ou workshops. 

O espaço, com quase 5 mil metros quadrados, nas traseiras da Escola Superior de Saúde, já alberga vários artistas, empreendedores e associações - regionais e nacionais. Um tatuador, um cabeleireiro, um oleiro ou um carpinteiro do Turquemenistão são alguns dos inquilinos da Fábrica (ver caixa), que também serve de sede a associações como a Bode Criativo, a Música XXI ou a ARCA. Segundo o mentor do projecto, conhecido como ‘Mató', todos "pagam uma renda simbólica, de cerca de 50 euros, para ajudar nas despesas".

O espaço, que promove o trabalho em rede e pretende criar condições para artistas e novos negócios, quer agora afirmar-se como uma referência.

"Queremos que as pessoas passem a vir cá depois do trabalho, para assistir aos eventos diários, interagir com os artistas ou simplesmente beber um café", explica ‘Mató', reforçando que é importante criar uma nova centralidade cultural na cidade.




Parabéns aos artistas!


Fonte:

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/ultima-hora/fabrica-abandonada-em-faro-vira-centro-de-arte




sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Colecção de arte encontrada em Munique inclui obras desconhecidas de Chagall

A colecção de arte com mais de 1.400 pinturas descoberta em Munique (Alemanha), no apartamento do filho de um negociante de arte durante o regime nazi, inclui obras desconhecidas de Chagall e Dix, anunciou a polícia alemã.Numa conferência de imprensa realizada hoje em Augsburgo, as autoridades alemãs revelaram as primeiras informações de uma operação que esteve mantida em segredo durante mais de um ano: a descoberta de uma vasta colecção de obras de arte num apartamento, em Munique, de Cornelius Gurlitt, filho de Hildebrand Gurlitt, negociante de arte muito bem relacionado com figuras do regime nazi.

Coleção de arte encontrada em Munique inclui obras não documentadas
Pintura do francês Marc Chagall até agora desconhecida

A colecção, com 1.285 telas e 121 emolduradas, poderá valer mais de mil milhões de euros e inclui obras de arte cuja existência não estava documentada, como uma pintura alegórica de Marc Chagall e um auto-retrato de Otto Dix e cujas imagens foram hoje apresentadas.
Meike Hoffman, investigadora da Universidade Livre de Berlim, explicou que a colecção inclui obras dos pintores "clássicos modernos" que foram confiscadas pelos nazis no final dos anos 1930 e pinturas representativas sobretudo do século XIX.
A colecção inclui obras de Henri Matisse, Max Liebermann, Picasso, Renoir, Macke, Courbet, entre outros.


Obras descobertas do artista Otto Dix (Reuters)
Autoridades alemãs foram criticadas pela demora em revelar a descoberta
Cornelius Gurlitt não foi ainda acusado de qualquer crime nem foi detido pelas autoridades, que desconhecem o seu paradeiro.
Hildebrand Gurlitt foi um dos negociantes de arte autorizados pelo regime nazi a vender obras confiscadas dos museus e de coleccionadores alemães por serem consideradas "arte degenerada", ou seja, de correntes artísticas como o cubismo, o surrealismo ou o expressionismo.
No entanto, muitas das obras de arte encontradas no apartamento do filho, actualmente com 79 anos, podem ainda ter sido confiscadas pelos nazis aos judeus em troca de uma autorização para sair do país.
Fontes:
http://sol.sapo.pt/inicio/Cultura/Interior.aspx?content_id=90915

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/11/131105_colecao_arte_nazista_pai.shtml


"A Lua"- Jacob e Wilhelm Grimm


"A Lua"- Jacob e Wilhelm Grimm


Irmãos Grimm
          Em tempos que já lá vão havia uma terra onde a noite era sempre escura e o céu estendia-se sobre ela como um lenço negro, pois ali a Lua nunca subia e nenhuma estrela piscava na escuridão. Na altura da criação do mundo, a luz da noite era suficiente. Uma vez, saíram desta terra em peregrinação quatro rapazes e chegaram a um outro reino onde, quando à noite o Sol desaparecia atrás dos montes, havia uma esfera brilhante pendurada num carvalho, que deitava uma luz suave em todas as direções. Devido a ela, era possível ver e distinguir tudo muito bem, embora não fosse uma luz tão forte como a do Sol. Os rapazes pararam e perguntaram a um lavrador, que passava por ali com o seu carro, que luz era aquela. “Aquilo é a Lua”, respondeu ele, “o nosso prefeito comprou-a por três moedas e pendurou-a no carvalho. Tem de lhe deitar óleo todos os dias e mantê-la limpa, para que ela não deixe de brilhar. Por isso, pagamos-lhe uma moeda por semana.”
Assim que o lavrador partiu, disse um deles: “Esta lanterna fazia-nos jeito, também lá temos um carvalho, tão alto como este, onde a podemos pendurar. Que grande alegria deixar de tropeçar na escuridão!” “Sabem que mais?”, disse o segundo, “precisamos de arranjar um carro e um cavalo e levar a Lua embora. As pessoas daqui bem podem comprar uma outra.” “Eu trepo com muita facilidade”, disse o terceiro, “trago-a já para baixo!” O quarto trouxe um carro e um cavalo e o terceiro trepou pela árvore acima, fez um buraco na Lua, passou-lhe um fio e fê-la descer. Assim que a Lua brilhante ficou dentro do carro, deitaram-lhe um lenço por cima, para que ninguém se apercebesse do roubo. Levaram-na sem problemas para a sua terra e penduraram-na num carvalho. Velhos e novos alegraram-se, quando a nova lanterna começou a estender a sua luz sobre os campos e os quartos e salas se encheram dela. Os anões saíram dos seus buracos nas rochas e os pequenos elfos, com os seus casacos vermelhos, faziam rodas nos prados.
Os quatro rapazes tratavam da Lua com óleo, limpavam a mecha e recebiam a sua moeda semanal. No entanto, envelheceram e quando um deles adoeceu e se apercebeu de que a morte estava próxima, ordenou que o quarto de lua que lhe pertencia fosse levado com ele para a sepultura. Quando morreu, o prefeito trepou à árvore e, com a tesoura da poda, cortou um quarto da Lua que meteu no caixão. A luz da Lua diminuiu, mas não muito. Quando morreu o segundo, foi-lhe dado o segundo quarto e a luz minguou. Mais fraca ficou ainda quando morreu o terceiro, que também levou o seu quarto e, quando o quarto homem foi sepultado, instalou-se de novo a velha escuridão. Sempre que as pessoas saíam à noite sem lanterna, batiam com as cabeças umas nas outras.
         Porém, assim que os quartos da Lua se juntaram no inferno, os mortos, habituados à escuridão, agitaram-se e acordaram do seu sono. Ficaram espantados por poderem ver de novo: a luz da Lua chegava-lhes bem, pois os seus olhos estavam tão fracos que não teriam podido suportar a luz dos Sol. Ergueram-se, alegraram-se e retomaram os seus hábitos de vida. Alguns deles dedicaram-se ao jogo e à dança, outros foram para as tabernas onde pediram vinho, embriagaram-se, vociferaram e lutaram e, por fim, pegaram em cacetes e bateram uns nos outros. O barulho era cada vez maior até que, por fim, chegou ao céu.
         São Pedro, que guarda as portas do céu, calculou que o inferno se tinha revoltado e chamou as hostes celestes, que lutavam contra o maligno, porque este e os seus associados pretendiam assolar a morada dos abençoados. Como, porém, elas não vinham, São Pedro montou no seu cavalo, atravessou as portas do céu e foi ao inferno. Aí sossegou os mortos, fê-los voltar de novo à sepultura e levou com ele a Lua, pendurando-a no céu.


Fontes:
http://comunidade.sol.pt/blogs/olindagil/archive/2012/06/23/Os-Contos-dos-Irm_E300_os-Grimm.aspx

http://textosintegrais.blogspot.pt/2011/06/lua-jacob-e-wilhelm-grimm.html

Um Conto de Natal de Sophia de Mello Breyner


O amigo
Era uma vez uma casa pintada de amarelo com um jardim à volta. No jardim havia tílias, um cedro muito antigo, uma cerejeira e dois plátanos.  Era debaixo do cedro que Joana brincava. Com musgo e ervas e paus fazia muitas casas pequenas encostadas ao grande tronco escuro. Depois imaginava os anõezinhos que, se existissem, poderiam morar naquelas casas. E fazia uma casa maior e mais complicada para o rei dos anões.
Joana não tinha irmãos e brincava sozinha. Mas de vez em quando vinham brincar os dois primos ou outros meninos. E, às vezes, ela ia a uma festa. Mas esses meninos a casa de quem ela ia e que vinham a sua casa não eram realmente amigos: eram visitas. Faziam troça das suas casas de musgo e maçavam-se imenso no seu jardim.
E  Joana tinha muita pena de não saber brincar com os outros meninos. Só sabia estar sozinha.

Mas um dia encontrou um amigo. Foi numa manhã de Outubro.
Joana estava encarrapitada no muro. E passou pela rua um garoto. Estava todo vestido de remendos e os seus olhos brilhavam como duas estrelas. Caminhava devagar pela beira do passeio sorrindo às folhas do Outono. O coração de Joana deu um pulo na garganta.
- Ah! – disse ela.
E pensou:
“Parece um amigo. É exactamente igual a um amigo.” E do alto do muro chamou-o:
- Bom dia!
O garoto voltou a cabeça, sorriu e respondeu:
- Bom dia!
Ficaram os dois um momento calados. Depois Joana perguntou:
- Como é que te chamas?
- Manuel – respondeu o garoto.
- Eu chamo-me Joana.
E de novo entre os dois, leve e aéreo, passou um silêncio. Ouviu-se tocar ao longe o sino de uma quinta.
Até que o garoto disse:
 - O teu jardim é muito bonito.
- É, vem ver.
Joana desceu do muro e foi abrir o portão.
E foram os dois pelo jardim fora. O rapazinho olhava uma por uma cada coisa. Joana mostrou-lhe o tanque e os peixes vermelhos. Mostrou-lhe o pomar, as laranjeiras e a horta. E chamou os cães para ele os conhecer. E mostrou-lhe a casa da lenha onde dormia um gato. E mostrou-lhe todas as árvores e as relvas e as flores.
- É lindo, é lindo – dizia o rapazinho gravemente.
- Aqui – disse Joana – é o cedro. É aqui que eu brinco. E sentaram-se sob a sombra redonda do cedro.
A luz da manhã rodeava o jardim: tudo estava cheio de paz e de frescura. Às vezes do alto de uma tília caía uma folha amarela que dava voltas no ar.
Joana foi buscar pedras, paus e musgo e começaram os dois a construir a casa do rei dos anões.
Brincaram assim durante muito tempo. Até que ao longe apitou uma fábrica.
- Meio-dia – disse o garoto -, tenho de me ir embora.
- Onde é que tu moras?
- Além nos pinhais.
- É lá a tua casa?
- É, mas não é bem uma casa.
- Então?
- O meu pai está no céu. Por isso somos muito pobres. A minha mãe trabalha todo o dia mas não temos dinheiro para ter uma casa.
- Mas à noite onde é que dormes?
- O dono dos pinhais tem uma cabana onde de noite dormem uma vaca e um burro. E por esmola dá-me licença de dormir ali também.
- E onde é que brincas?
- Brinco em toda a parte. Dantes morávamos no centro da cidade e eu brincava no passeio e nas valetas. Brincava com latas vazias, com jornais velhos, com trapos e com pedras. Agora brinco no pinhal e na estrada. Brinco com as ervas, com os animais e com as flores. Pode-se brincar em toda a parte.
- Mas eu não posso sair deste jardim. Volta amanhã para brincar comigo.
E daí em diante todas as manhãs o rapazinho passava pela rua. Joana esperava-o empoleirada em cima do muro.
Abria-lhe a porta e iam os dois sentar-se sob a sombra redonda do cedro. E foi assim que Joana encontrou um amigo.
Era um amigo maravilhoso. As flores voltavam as suas corolas quando ele passava, a luz era mais brilhante em seu redor e os pássaros vinham comer na palma das suas mãos as migalhas de pão que Joana ia buscar à cozinha.

A festa
Passaram muitos dias, passaram muitas semanas até que chegou o Natal.
E no dia de Natal Joana pôs o seu vestido de veludo azul, os seus sapatos de verniz preto e muito bem penteada às sete e meia saiu do quarto e desceu a escada.
Quando chegou ao andar de baixo ouviu vozes na sala grande; eram as pessoas crescidas que estavam lá dentro. Mas Joana sabia que tinham fechado a porta para ela não entrar. Por isso foi à casa de jantar ver se já lá estavam os copos.
Os copos passavam a sua vida fechados dentro de um grande armário de madeira escura que estava no meio do corredor. Esse armário tinha duas portas que nunca se abriam completamente e uma grande chave. Lá dentro havia sombras e brilhos. Era como o interior de uma taverna cheia de maravilhas e segredos. Estavam lá fechadas muitas coisas, coisas que não eram precisas para a vida de todos os dias, coisas brilhantes e um pouco encantadas: loiças, frascos, caixas, cristais e pássaros de vidro. Até havia um prato com três maçãs de cera e uma menina de prata que era uma campainha. E também um grande ovo de Páscoa feito de loiça encarnada com flores doiradas.
Joana nunca tinha visto bem até ao fundo do armário. Não tinha licença de o abrir. Só conseguia que a criada às vezes a deixasse espreitar entre as duas portas.
Nos dias de festa, do fundo das sombras do interior do armário saíam os copos. Saíam claros, transparentes e brilhantes, tilintando no tabuleiro. E para Joana aquele barulho de cristal a tilintar era a música das festas.
Joana deu uma volta à roda da mesa. Os copos já lá estavam, tão frios e luminosos que mais pareciam vindos do interior de uma fonte de montanha do que do fundo de um armário.
As velas estavam acesas e a sua luz atravessava o cristal. Em cima da mesa havia coisas maravilhosas e extraordinárias: bolas de vidro, pinhas douradas e aquela planta que tem folhas com picos e bolas encarnadas. Era uma festa.
Era o Natal.
Então Joana foi ao jardim. Porque ela sabia que nas Noites de Natal as estrelas são diferentes.
Abriu a porta e desceu a escada da varanda. Estava muito frio, mas o próprio frio brilhava. As folhas das tílias, das bétulas e das cerejeiras tinham caído. Os ramos nus desenhavam-se no ar como rendas pretas. Só o cedro tinha os seus ramos cobertos.
E muito alto, por cima das árvores, era a escuridão enorme e redonda do céu. E nessa escuridão as estrelas cintilavam, mais claras do que tudo. Cá em baixo era uma festa e por isso havia muitas coisas brilhantes: velas acesas, bolas de vidro, copos de cristal. Mas no céu havia uma festa maior, com milhões e milhões de estrelas.
Joana ficou algum tempo com a cabeça levantada. Não pensava em nada. Olhava a imensa felicidade da noite no alto céu escuro e luminoso, sem nenhuma sombra.
Depois voltou para casa e fechou a porta.
- Ainda falta muito tempo para o jantar? – perguntou ela a uma criada que ia a atravessar o corredor.
- Ainda falta um bocadinho, menina – disse a criada.
Então Joana foi à cozinha ver a cozinheira Gertrudes, que era uma pessoa extraordinária porque mexia nas coisas quentes sem se queimar e nas facas mais aguçadas sem se cortar e mandava em tudo, e sabia tudo. Joana achava-a a pessoa mais importante que ela conhecia.
A Gertrudes tinha aberto o forno e estava debruçada sobre os dois perus de Natal. Virava-os e regava-os com molho. A pele dos perus, muito esticada sobre o peito recheado, já estava toda doirada.
- Gertrudes, ouve uma coisa -  disse Joana.
A Gertrudes levantou a cabeça e parecia tão assada como os perus.
- O que é? – perguntou ela.
- Que presentes é que achas que eu vou ter?
- Não sei – disse Gertrudes -, não posso adivinhar.
Mas Joana tinha a maior confiança na sabedoria de Gertrudes e por isso continuou a fazer perguntas.
- E achas que o meu amigo vai ter muitos presentes?
- Qual amigo? – disse a cozinheira.
- O Manuel.
- O Manuel não. Não vai ter presentes nenhuns
- Não vai ter presentes nenhuns?
- Não – disse a Gertrudes abanando a cabeça.
- Mas porquê, Gertrudes?
- Porque é pobre. Os pobres não têm presentes.
- Isso não pode ser, Gertrudes.
- Mas é assim mesmo – disse a Gertrudes fechando a tampa do forno.
 Joana ficou parada no meio da cozinha. Tinha compreendido que era “assim mesmo”.
Porque ela sabia que a Gertrudes conhecia o mundo. Todas as manhãs a ouvia discutir com o homem do talho, com a peixeira e com a mulher da fruta. E ninguém a podia enganar.
Porque ela era cozinheira há trinta anos. E há trinta anos que ela se levantava às sete da manhã e trabalhava até às onze da noite. E sabia tudo o que se passava na vizinhança e tudo o que se passava dentro das casas de toda a gente. E sabia todas as notícias, e todas as histórias das pessoas. E conhecia todas as receitas de cozinha, sabia fazer todos os bolos e conhecia todas as espécies de carnes, de peixes, de frutas e de legumes. Ela nunca se enganava. Conhecia bem o mundo, as coisas e os homens.
Mas o que a Gertrudes tinha dito era esquisito como uma mentira. Joana ficou calada a cismar no meio da cozinha.
De repente abriu-se a porta e apareceu uma criada que disse:
- Já chegaram os primos.
Então Joana foi ter com os primos. Daí a uns minutos apareceram as pessoas grandes e foram todos para a mesa.
Tinha começado a festa do Natal.
Havia no ar um cheiro de canela e de pinheiro. Em cima da mesa tudo brilhava: as velas, as facas, os copos, as bolas de vidro, as pinhas doiradas. E as pessoas riam e diziam umas às outras: “Bom Natal”. Os copos tilintavam com um barulho de alegria e de festa. E vendo tudo isto Jiana pensava:
- Com certeza que a Gertrudes se enganou. O Natal é uma festa para toda a gente. Amanhã o Manuel vai-me contar tudo. Com certeza que ele também tem presentes.
E consolada com esta esperança Joana voltou a ficar quase tão alegre como antes.
O jantar do Natal era igual ao de todos os anos. Primeiro veio a canja, depois o bacalhau assado, depois os perus, depois os pudins de ovos, depois as rabanadas, depois os ananases. No fim do jantar levantaram-se todos, abriu-se de par em par a porta e entraram na sala.
As luzes eléctricas estavam apagadas. Só ardiam as velas do pinheiro.
Joana tinha nove anos e já tinha visto nove vezes a árvore de Natal. Mas era sempre como se fosse a primeira vez.
Da árvore nascia um brilhar maravilhoso que pousava sobre todas as coisas. Era como se o brilho de uma estrela se tivesse aproximado da Terra. Era o Natal. E por isso uma árvore se cobria de luzes e os seus ramos se carregavam de extraordinários frutos em memória da alegria que, numa noite muito antiga, se tinha espalhado sobre a Terra.
E no presépio figuras de barro, o Menino, a Virgem, São José, a vaca e o burro, pareciam continuar uma doce conversa que jamais tinha sido interrompida. Era uma conversa que se via e não se ouvia.
Joana olhava, olhava, olhava.
Às vezes lembrava-se do seu amigo Manuel. Um dos primos puxou-a por um braço.
- Joana, ali estão os teus presentes.
Joana abriu um por um os embrulhos e as caixas: a boneca, a bola, os livros cheios de desenhos a cores, a caixa de tintas. À sua volta todos riam e conversavam.
Todos mostravam uns aos outros os presentes que tinham tido, falando ao mesmo tempo.
E Joana pensava:
- Talvez o Manuel tenha tido um automóvel.
E a festa do Natal continuava.
As pessoas grandes sentaram-se nas cadeiras e nos sofás a conversar e as crianças sentaram-se no chão a brincar.
Até que alguém disse:
- São onze horas e meia. São quase horas da missa. E são horas das crianças se irem deitar.
Então as pessoas começaram a sair.
O pai e a mãe da Joana também saíram.
- Boa noite, minha querida. Bom Natal – disseram eles.
E a porta fechou-se.
Daí a um instante saíram as criadas.
A casa ficou muito silenciosa. Tinham ido todos para a Missa do Galo, menos a velha Gertrudes, que estava na cozinha a arrumar as panelas.
E Joana foi à cozinha. Era a altura boa para falar com a Gertrudes.
- Bom Natal, Gertrudes – disse Joana.
- Bom Natal – respondeu a Gertrudes.
Joana calou-se um momento. Depois perguntou:
- Gertrudes, aquilo que me disseste antes do jantar é verdade?
- O que é que eu disse?
- Disseste que o Manuel não ia ter presentes de Natal porque os pobres não têm presentes.
- Está claro que é verdade. Eu não digo fantasias: não teve presentes nem árvore do Natal, nem peru recheado, nem rabanadas. Os pobres são os pobres. Têm a pobreza.
- Mas então o Natal dele como foi?
- Foi como nos outros dias.
- E como é nos outros dias?
- Uma sopa e um bocado de pão.
- Gertrudes, isso é verdade?
- Está claro que é verdade. Mas agora era melhor que a menina se fosse deitar porque estamos quase na meia-noite.
- Boa noite – disse Joana. E saiu da cozinha.
Subiu a escada e foi para o seu quarto. Os seus presentes de Natal estavam em cima da cama. Joana olhou-os um por um. E pensava:
- Uma boneca, uma bola, uma caixa de tintas e livros. São tal e qual os presentes que eu queria. Deram-me tudo o que eu queria. Mas ao Manuel ninguém deu nada.
E sentada na beira da cama, ao lado dos presentes, Joana pôs-se a imaginar o frio, a escuridão e a pobreza. Pôs-se a imaginar a Noite de Natal naquela casa que não era bem uma casa, mas um curral de animais.
“Que frio lá deve estar!”, pensava ela.
“Que escuro lá deve estar!”, pensava ela.
“Que triste lá deve estar!”, pensava.
E começou a imaginar o curral gelado e sem nenhuma luz onde Manuel dormia em cima de palhas, aquecido só pelo bafo de uma vaca e de um burro.
- Amanhã vou dar-lhe os meus presentes - disse ela.
Depois suspirou e pensou:
“Amanhã não é a mesma coisa. Hoje é que é a Noite de Natal.”
Foi à janela, abriu as portadas e através dos vidros espreitou a rua. Ninguém passava. O Manuel estava a dormir. Só viria na manhã seguinte. Ao longe via-se uma grande sombra escura: era o pinhal.
 Então ouviu, vindas da Torre da Igreja, fortes e claras, as doze pancadas da meia-noite.
“Hoje”, pensou Joana, “tenho de ir hoje. Tenho de ir lá agora, esta noite. Para que ele tenha presentes na Noite de Natal.”
Foi ao armário, tirou um casaco e vestiu-o. Depois pegou na bola, na caixa de tintas e nos livros. Apetecia-lhe levar também a boneca, mas ele era um rapaz e com certeza não gostava de bonecas.
Pé ante pé Joana desceu a escada. Os degraus estalaram um por um. Mas na cozinha a Gertrudes fazia muito barulho a arrumar as panelas e não a ouviu.
Na sala de jantar havia uma porta que dava para o jardim. Joana abriu-a e saiu, deixando-a ficar só fechada no trinco.
Depois atravessou o jardim. O Alex e a Chiribita ladraram.
- Sou eu, sou eu – disse Joana.
E os cães, ouvindo a sua voz, calaram-se.
Então Joana abriu a porta do jardim e saiu.
A estrela
Quando se viu sozinha no meio da rua teve vontade de voltar para trás. As árvores pareciam enormes e os seus ramos sem folhas enchiam o céu de desenhos iguais a pássaros fantásticos. E a rua parecia viva. Estava tudo deserto. Àquela hora não passava ninguém. Estava toda a gente na Missa do Galo. As casas, dentro dos seus jardins, tinham as portas e as janelas fechadas. Não se viam pessoas, só se viam coisas. Mas Joana tinha a impressão de que as coisas a olhavam e a ouviam como pessoas.
“Tenho medo”, pensou ela. Mas resolveu caminhar para a frente sem olhar para nada.
Quando chegou ao fim da rua virou à direita e meteu a um atalho entre dois muros. E no fim do atalho encontrou os campos, planos e desertos. Ali, sem muros nem árvores nem casas, a noite via-se melhor. Uma noite altíssima e redonda e toda brilhante. O silêncio era tão forte que parecia cantar. Muito ao longe via-se a massa escura dos pinhais.
“Será possível que eu chegue até lá?”, pensou Joana. Mas continuou a caminhar.
Os seus pés enterravam-se nas ervas geladas. Ali no descampado soprava um curto vento de neve que lhe cortava a cara como uma faca.
“Tenho frio”, pensou Joana. Mas continuou a caminhar.
À medida que se ia aproximando dele, o pinhal ia-se tornando maior. Até que ficou enorme.
Joana parou um instante no meio dos campos.
“Para que lado ficará a cabana?”, pensou ela.
E olhava em todas as direcções à procura dum rasto.
Mas à sua direita não havia rasto, à sua esquerda não havia rasto e à sua frente não havia rasto.
 “Como é que hei-de encontrar o caminho?”, perguntava ela.
E levantou a cabeça.
Então viu que no céu, lentamente, uma estrela caminhava. “Esta estrela parece um amigo”, pensou ela.
E começou a seguir a estrela.
Até que penetrou no pinhal. Então num instante as sombras fizeram uma roda à sua volta. Eram enormes, verdes, roxas, pretas e azuis, e dançavam com grandes gestos. E a brisa passava entre as agulhas dos pinheiros, que pareciam murmurar frases incompreensíveis. E vendo-se assim rodeada de vozes e de sombras Joana teve medo e quis fugir. Mas viu que no céu, muito alto, para além de todas as sombras, a estrela continuava a caminhar. E seguiu a estrela.
Já no meio do pinhal pareceu-lhe ouvir passos.
“Será um lobo?”, pensou.
Parou a escutar. O barulho dos passos aproximava-se. Até que viu surgir entre os pinheiros um vulto muito alto que vinha caminhando ao seu encontro.
“Será um ladrão?”, pensou
Mas o vulto parou na sua frente e ela viu que era um rei. Tinha na cabeça uma coroa de oiro e dos seus ombros caía um longo manto azul todo bordado de diamantes.
- Boa noite – disse Joana.
- Boa noite – disse o rei – Como te chamas?
- Eu, Joana – disse ela.
- Eu chamo-me Melchior – disse o rei.
E perguntou:
- Onde vais sozinha a esta hora da noite?
- Vou com a estrela – disse ela.
- Também eu – disse o rei -, também eu vou com a estrela.
E juntos seguiram através do pinhal.
E de novo Joana ouviu passos. E um vulto surgiu entre as sombras da noite.
Tinha na cabeça uma coroa de brilhantes e dos seus ombros caía um grande manto vermelho coberto de muitas esmeraldas e safiras.
- Boa noite – disse ela -. Chamo-me Joana e vou com a estrela.
- Também eu – disse o rei -, também eu vou com a estrela e o meu nome é Gaspar.
E seguiram juntos através dos pinhais.
E mais uma vez Joana ouviu um barulho de passos e um terceiro vulto surgiu entre as sombras azuis e os pinheiros escuros.
Tinha na cabeça um turbante branco e dos seus ombros caía um longo manto verde bordado a pérolas. A sua cara era preta.
- Boa noite – disse ela. – O meu nome é Joana. E vamos com a estrela.
- Também eu – disse o rei – caminho com a estrela e o meu nome é Baltasar.
E juntos seguiram os quatro através da noite.
No chão os galhos secos estalavam sob os passos, a brisa murmurava entre as árvores e os grandes mantos bordados dos três reis do Oriente brilhavam entre as sombras verdes, roxas e azuis.
Já quase no fundo dos pinhais viram ao longe uma claridade. E sobre essa claridade a estrela parou.
E continuaram a caminhar.
Até que chegaram ao lugar onde a estrela tinha parado e Joana viu um casebre sem porta. Mas não viu escuridão, nem sombra, nem tristeza. Pois o casebre estava cheio de claridade, porque o brilho dos anjos o iluminava.
E Joana viu o seu amigo Manuel. Estava deitado nas palhas entre a vaca e o burro e dormia sorrindo.
Em sua roda, ajoelhados no ar, estavam os anjos. O seu corpo não tinha nenhum peso e era feito de luz sem nenhuma sombra.
E com as mãos postas os anjos rezavam ajoelhados no ar. Era assim, à luz dos anjos, o Natal do Manuel.
- Ah – disse Joana -, aqui é como no presépio!
- Sim – disse o rei Baltasar -, aqui é como no presépio.
Então Joana ajoelhou-se e poisou no chão os seus presentes.
( A Noite de Natal, Figueirinhas)

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